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Quando foi lançado, Garotas do Calendário (Calendar Girls - 2003) foi imediatamente comparado a Ou tudo ou nada (The Full Monty - 1997). Fazendo um breve paralelo entre os dois, vemos que são comédias britânicas em que improváveis grupos resolvem tirar a roupa. E só.
Enquanto o filme estrelado por Robert Carlyle era uma crítica social disfarçada, a produção que tem Helen Mirren (Assassinato em Gosford Park) e Julie Waters (Billy Elliot) nos papéis principais é inspirada em fatos reais e tem uma moral da história bem hollywoodiana. Outra diferença é que enquanto na história protagonizada pelos homens o tira tudo só acontece no final, as Garotas do Calendário ficam nuas lá pela metade da fita. Assim, o que foi um final perfeito em um, acaba se tornando, no outro, uma ejaculação precoce que deixa pouco a ser desfrutado depois. Mas não faça mal juízo adiantado, os primeiros dois terços do longa fazem rir e emocionam o suficiente para fazer o filme valer a pena.
Na minúscula cidade de Knapely, no interior da Inglaterra, membros do Instituto da Mulher se reúnem para palestras de altíssimo cunho cultural, como, por exemplo, a chatíssima história do brócolis. Chris (Helen Mirren) e Annie (Julie Walters) não levam nada daquilo a sério. Após a morte do marido da última, por leucemia, elas têm um plano maluco para arrecadar dinheiro para comprar um sofá novo para a sala de espera do hospital onde seu marido foi tratado: posar nuas para o calendário anual do tradicional Instituto. Recebida inicialmente com desconfiança, a idéia logo é apoiada por 11 bravas mulheres entre os seus 45 e 65 anos. As fotos, porém, seriam artísticas, apenas insinuando o nu, sem nunca mostrar nenhuma das partes íntimas das senhoras. O calendário se torna um enorme sucesso não só na Inglaterra, como também nos Estados Unidos. As garotas do calendário vão para Hollywood, onde são entrevistadas por Jay Leno - uma espécie de Jô Soares de lá.
É justamente a partida delas para a terra do cinema que faz o filme desandar. A partir desta cena, começam a surgir conflitos entre as líderes Annie e Chris, e o diretor Nigel Cole (O barato de Grace) perde o bom ritmo com que vinha contando sua história.
Verdades e mentiras
O fato de ser inspirado em fatos reais, não quer dizer que tudo o que é mostrado na telona realmente aconteceu. Na verdade, muita coisa do roteiro escrito por Tim Firth e Juliette Towhidi faz parte da licença poética da qual o cinema geralmente se utiliza (e às vezes abusa). Algumas são bastante justificáveis, como a dificuldade de conseguir o OK do Instituto da Mulher, que na verdade apoiou o projeto desde o início. A mudança tinha como único intuito aumentar a dramaticidade da história. E consegue. O mesmo se pode dizer do fotógrafo, que na vida real era o marido de uma das mulheres e não um voluntário do hospital. E o sucesso comercial do calendário? Bom, ele foi tão verdadeiro quanto no filme. Lançado em abril de 1999, a prensagem inicial sumiu das livrarias em apenas uma semana, levando a novas e novas reimpressões. No total, foram vendidas 88 mil cópias, gerando mais de 500 mil libras (aproximadamente 2,8 milhões de reais), que foram doados ao centro de estudo do câncer da Universidade de Leeds.
Nas bilheterias, o filme arrecadou mais de 60 milhões de dólares só nos Estados Unidos e Inglaterra... e pode apostar que o que levou mais gente ao cinema foi a comovente e inusitada história, embora alguns devem ter ido mesmo é para ver as velhinhas peladas ;-)