Filmes

Crítica

Mulher-Gato | Crítica

<i>Mulher-Gato</i>

12.08.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

Mulher-Gato
Catwoman
EUA, 2004
Ação - 91 min.

Direção: Pitof
Roteiro: John Brancato, Mike Ferris

Elenco: Halle Berry, Sharon Stone, Benjamin Bratt, Lambert Wilson, Alex Borstein, Michael Massee

Lacuna Inc.? Me vê um apagador de memória, por favor...

Realmente Mulher-Gato (Catwoman, 2004) é inqualificável, nocivo ao tipo mais rasteiro de intelecto, daqueles filmes que dá tristeza comentar, que dói só de lembrar.

Mas antes de ver o filme eu ainda nutria um fiapo de esperança, apesar das previsões pessimistas. Acredito que uma adaptação corajosa de HQs, capaz de reinventar conceitos, tenha mais chance de funcionar do que um produto médio hollywoodiano, feito segundo o receituário padrão, a toque de caixa, por uma equipe inexpressiva, como o recente O Justiceiro (The Punisher, de Jonathan Hensleigh, 2004), por exemplo.

E as primeiras peças promocionais de Mulher-Gato, se não empolgantes, eram ao menos interessantes. Halle Berry miando e arranhando, sem medo da cafonice, suscitava que o lado mais brega da personagem - uma pessoa normal, sem poderes ou profundas motivações, que sai à rua vestida de gata, não pode se levar muito a sério mesmo - finalmente afloraria em sua canastroníssima plenitude.

Mas eis que veio a sessão. E Pitof, o diretor francês com nome de removedor de tinta, extermina qualquer expectativa em quinze minutos.

Por quê? Pra quê?

Aquilo que em mãos hábeis se chama estilo, nas de Jean-Christophe Comar - a identidade por trás do pseudônimo - não passa de exagero. Narração em off reafirmando o que as imagens já explicam, cortes abruptos, ângulos obtusos e closes invasivos que praticamente esmurram o elenco não são, absolutamente, a melhor forma de abrir uma história. Halle interpreta a desenhista publicitária Patience Phillips como se sofresse de dislexia, labirintite e síndrome do pânico, ao mesmo tempo, o tempo todo. Na agência, ela interage com dois estereótipos - a gordinha animada e o gay histérico - e a trilha sonora baba sugere, de fato, que tudo não passa de uma sitcom de meia-temporada.

A felina nem apareceu e Mulher-Gato já ficou insuportável.

Não há o que fazer senão acompanhar. Patience é a responsável pela campanha de divulgação de um creme revolucionário, capaz de rejuvenescer a pele. Mas George Hedare (Lambert Wilson) e Laurel Hedare (Sharon Stone), donos da marca do cosmético, escondem uma falha altamente perigosa na fórmula... Quando Patience descobre sem querer o segredo, acaba morta. Eis então que uma conjunção místico-egípcia, morfogênica, simbiôntica, ou o que seja, a revive na forma de uma vingativa moça que salta, arranha, come peixe, bebe leite e mia como um bichano.

A sucessão de clichês avança. Inclui também a paixão bandida com um policial e até a aparição de uma mentora misteriosa que orienta a felina. Agora, a questão principal: por que reinventar uma personagem se a nova solução apenas recicla chavões? A Selina Kyle dos quadrinhos era o máximo do anti-heroísmo, ora ladra ora prostituta, e não possuía poderes justamente para não fugir desse pesado retrato naturalista. A Patience Phillips de Pitof reclama dos vizinhos barulhentos e joga basquete com as crianças como se estivesse num videoclipe da Thalia. Céus, por quê? Pra quê?

Se você pensa que o filme pode ser um trash divertido, não pense. Se acha que Halle Berry fica gostosa de couro, cuidado com CGIs enganosos e dublês masculinos. E se você tiver a chance de não assistir a um dos piores blockbusters dos últimos dez anos, não assista. Quando passar na televisão, desligue-a.

Nota do Crítico
Ruim