Independence Day: O Ressurgimento chega 20 anos depois do primeiro filme, mas carrega consigo inúmeras influências da catarse e do exagero do cinema dos anos 1990. Sem medo de ser brega, o longa de Roland Emmerich se desprende de qualquer didatismo e joga para o espectador a tarefa de se entreter com o absurdo. A invasão alienígena tem ares de um game frenético dos dias atuais, cheia de efeitos de primeira qualidade que se preocupam apenas em encantar e divertir durante as quase duas horas de duração.
A história se passa (também) 20 anos depois do primeiro ataque extraterrestre. Neste tempo, a humanidade se uniu, formou um novo governo mundial e aprendeu a lidar com a tecnologia dos inimigos. Isso não só avançou o desenvolvimento de armas, como de naves e de toda exploração espacial - agora, os humanos estão em todo o Sistema Solar, com bases na Lua e pontos de observação em outros planetas. Nestes postos estão pilotos e cientistas responsáveis por cuidar da segurança da Terra, entre eles o rebelde Jake Morrison (Liam Hemsworth) e o prodígio Dylan Hiller (Jesse T. Usher).
Hiller é o filho do personagem de Will Smith no primeiro filme. Na história, ele faleceu no primeiro teste de uma nave que mescla tecnologia humana com alien e é tratado como um ídolo pela população. Dylan não é o único que segue com o legado do pai. Maika Monroe interpreta Patricia Whitmore, filha do ex-presidente Whitmore, personagem de Bill Pullman que volta com muita importância na trama. O mesmo serve para David Levinson (Jeff Goldblum), Julius Levinson (Judd Hirsch) e Dr. Okun (Brent Spiner) - a velha guarda do primeiro longa. E todos eles, novos e antigos, se cruzam na segunda leva de ataques dos alienígenas mostrada em O Ressurgimento.
Os primeiros minutos do filme mostram pouca preocupação em explicar o contexto dos últimos 20 anos. Em poucas imagens e diálogos, Emmerich fala sobre a situação da Terra, sobre o passado dos antigos personagens e para onde todos irão na próxima hora. Ao dividir o elenco por núcleo de idade, o filme diferencia muito bem como serão as relações entre os personagens e qual o tom que dará à cada sequência apresentada. Enquanto Pullman e Goldblum sustentam as teorias e detalham a "ciência" da trama, Hemsworth e Usher lideram as cenas de ação. A primeira dupla esbanja carisma e timing dramático/cômico; a segunda sofre no início para entregar uma boa performance, mas no ato final consegue embarcar junto no frisson orquestrado pelo diretor.
Os exageros visuais e a noção de espaço e movimentação de câmera de Emmerich são o maior trunfo de O Ressurgimento. Assim como no primeiro filme, quando conseguiu dar a escala exata dos desastres, o alemão não esquece de transmitir a grandiosidade da destruição em tela. Humanos sempre são postos ao lado de naves alienígenas e os pontos turísticos servem como referência para o tamanho do impacto. A boa novidade desta sequência é a habilidade em trabalhar os efeitos espaciais em situações completamente diferentes e inéditas, se compararmos ao trabalhos anteriores de Emmerich.
A guerra nas estrelas do segundo ato e a batalha final são exemplos de como uma boa edição consegue situar bem o espectador em uma luta que acontece, no minímo, em dois lugares ao mesmo tempo. E nas duas situações, Independence Day diversifica o tom da ação. Em uma ele traz um tiroteio espacial cheio de cores e agilidade na câmera, enquanto na outra ele mostra uma disputa monstruosa e lenta, sem perder o impacto que o clímax de um blockbuster como esse precisa ter.
O Ressurgimento não esconde, em nenhum momento, que só quer ser um escape, um momento de diversão que inclui uma disputa entre aliens e humanos. Os personagens e as atitudes deles continuam bobas e boa parte dos diálogos (ou discursos) são tão bregas quanto o primeiro filme - e nada disso incomoda a ponto de atrapalhar a experiência, pois não existe aqui sugestão de discussão ou profundidade na história. A sinceridade (e a megalomania) com que este novo Independence Day trata suas ambições é o suficiente para que ao fim da sessão tudo seja tratado apenas como o mais puro entretenimento.