Inferno, novo filme da franquia do simbologista Robert Langdon (Tom Hanks), chega aos cinemas deslocado. Enquanto Hollywood aposta no espetáculo de efeitos, franquias interligadas e tramas cada vez mais voltadas para super-heróis terrenos, o longa de Ron Howard acredita na curiosidade histórica da audiência, explorando personalidades e acontecimentos das Idades Média e Antiga para construir uma trama de mistério - assim como os dois filmes anteriores.
A diferença deste para os antecessores não é só o timing, já que Dan Brown não é mais o autor do momento, ou a falta de super poderes. Longe disso. O que distancia Inferno de qualquer aventura investigativa é o desinteresse com que trata as revelações e as relacionam com o contexto atual. Não há peso ou urgência nos problemas resolvidos por Langdon, apenas respostas para uma interessante trívia de História da Arte.
* Relançamento de bestseller de Dan Brown parece sem sentido nos dias de hoje
Depois de lidar com a família de Cristo em O Código Da Vinci e os Iluminatti em Anjos e Demônios, Langdon se envolve com um milionário obcecado por Dante Alighieri, criador da Divina Comédia Humana. Bertrand Zobrist, vivido pelo sempre excêntrico Ben Foster (Warcraft), acha que a humanidade está prestes a ser extinta e acredita que a única saída para evitar isso é matar boa parte dos habitantes da Terra com um vírus. E apesar de falar sobre isso inúmeras vezes, não há sensação de perigo nas ameaças.
Como em todo bom mistério de Brown, a tragédia humana está ligada diretamente a os maiores gênios e cidades da Europa - no caso de Inferno Dante e Boticelli são os rostos escolhidos; enquanto Florença, Istambul e Veneza servem de palco para a caçada de Langdon e da Organização Mundial da Saúde, que entra aqui como o 'sistema'.
De todos os livros de Dan Brown adaptou, este é o que Ron Howard menos consegue modificar a trama para deixá-la atraente para as telas. Os personagens exageram no estereótipo, se perdem nas motivações e não atraem a simpatia do espectador. O maior exemplo de todos é Sienna Brooks, médica vivida por Felicity Jones (Rogue One - Uma História Star Wars), feita para incluir a audiência na trama, mas que acaba como um simples peão no fraco desfecho do roteiro.
Inferno ao menos se diferencia pelo visual. As alucinações e pensamentos de Langdon não se limitam a holografias no meio das esculturas. Aqui os círculos do inferno tomam forma em humanos queimados e deformados, ao mesmo tempo que Howard opta por uma câmera mais nervosa, perdida no foco entre ambiente e atores, acelerando o ritmo da história mais do que na publicação original. A sacada ajuda a tornar a trajetória da dupla protagonista mais frenética, mas não avança a ponto de dar uma identidade ao longa. Se não é o fim de Langdon no cinema, Inferno ao menos é um sinal amarelo.