Historicamente, as animações DC Comics servem como padrão de qualidade para qualquer adaptação de quadrinhos de super-herói. O selo já criou franquias animadas adoradas por diferentes gerações de fãs, levando seus personagens de maneiras criativas para a TV e para os cinemas, quase sempre recebendo elogios de críticos e espectadores. Infelizmente, nada desse sucesso é sentido em Injustiça: Deuses Entre Nós, novo longa animado baseado no game Injustice e na HQ do jogo, ambos de 2013.
Indo na contramão de tudo o que construiu a ótima reputação da DC no mundo animado, Injustiça: Deuses Entre Nós já decepciona logo em seus primeiros minutos. Os traços brutos aplicados nos personagens, embora funcionem no videogame, prejudicam a fluidez da animação 2D, que fica truncada e sem vida. Mal-aproveitada, a estética do longa em nada acrescenta ao seu tom pessimista e transforma a produção em uma experiência desagradável.
O filme desagrada também em sua dublagem. A escolha das vozes originais parece aleatória e pouco inspirada. Há uma falta clara de direção na dublagem, que raramente condiz com a cena em que estão inseridas. Com exceção da Arlequina de Gillian Jacobs e o Arqueiro Verde de Reid Scott, os personagens do longa perdem qualquer traço de personalidade, especialmente a versão do Superman dublada por Justin Hartley. Com uma modulação praticamente inexistente, o ator falha em passar qualquer nuance emocional exigida pela história.
Outro ponto negativo de Injustiça é o roteiro de Ernie Altbacker e Ian Rodgers. Além de ignorar toda a construção feita nas HQs assinadas por Tom Taylor, a animação apressa a deterioração psicológica e moral de Clark e descaracteriza heróis como Mulher-Maravilha (Janet Varney) e Shazam (Yuri Lowenthal). Satisfazendo-se apenas com a sanguinolência das batalhas, o filme deixa de lado tudo o que torna esses personagens amados e, por consequência, elimina o choque de ver os maiores defensores da Terra se tornarem déspotas e genocidas.
Também não se pode relevar o desgaste da fórmula do “Superman vilão”, que já não era nenhuma novidade mesmo em 2013, quando o primeiro Injustice foi lançado. Só na DC, já haviam sido contadas as histórias de Bizarro, Ultraman, Superboy Primordial e as versões nazista e stalinista de Kal-El. Em 2021, esse conceito melancólico se torna pouco mais do que uma tentativa de mascarar uma narrativa mal-desenvolvida, claramente idealizada como uma forma de se aproveitar do sucesso de The Boys e Invencível, que, ao contrário de Injustiça, souberam aproveitar suas releituras do Homem de Aço.
Mesmo com quase nove décadas no mundo do entretenimento, a DC raras vezes falhou tanto com seu público como com Injustiça: Deuses Entre Nós. Uma das piores coisas que a editora já entregou, dentro e fora das páginas, a animação tem no possível abandono do “Superman destruidor” sua única chance de redenção.