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Invasão Zumbi | Crítica

Despretensioso, sucesso sul-coreano se faz no crescendo das reações

27.12.2016, às 11H30.
Atualizada em 15.02.2017, ÀS 14H56

O fato de zumbis terem sido esgotados como metáfora política e social pela cultura pop, no mundo todo, talvez explique um pouco por que Invasão Zumbi (Train to Busan) parece desinteressante de início. Na trama do sucesso sul-coreano, Seok Woo é um desalmado gestor de investimentos que precisa pegar um trem para levar sua filha até a casa da ex-mulher, de Seul a Busan - percurso de 450km que será dificultado por um apocalipse zumbi que de um instante a outro contagia o país.

Mais próximo de O Expresso do Amanhã do que dos filmes de zumbi de George Romero, o terror do diretor Yeon Sang-ho trabalha com as ideias mais imediatas do humanismo de hoje em dia, criticando os endinheirados que se encastelam nos vagões da primeira classe, em prejuízo da classe média (o casal à espera de um bebê), dos idosos (as duas velhinhas envoltas em uma sugestão de um relacionamento gay), dos colarinhos azuis (maquinista, tripulação) e do "futuro" da Coreia (os jovens do time de beisebol).

O fato de Seok Woo encontrar como duplo um tipo egoísta assim como ele, e que mais cedo ou mais tarde se tornará seu antagonista, é o único elemento dramatúrgico de que Invasão Zumbi precisa para consumar o arco dramático do seu protagonista - uma escolha que Yeon faz pela simplicidade, uma vez que a narrativa do seu filme é ditada pela ação. Nesse sentido, Invasão Zumbi se filia ao bom cinema pop que é feito no país, sempre preocupado primeiro com a fidelidade ao gênero e suas regras. (É óbvio que se espera que um bom filme de ação tenha sua história contada através de ação.)

Então quando percebemos que Invasão Zumbi não vai mesmo trazer nenhuma novidade em relação à interpretação que se faz dos zumbis como sintoma de um mal social, o filme parece se emancipar desse tipo de expectativa. O que sobra, a partir da metade do trajeto, é uma escalada de desespero que sabe suprir as carências de ação grandiloquente (os efeitos em CGI não são o ponto forte) com muita dinâmica de corpo a corpo - um jeito de filmar que, à moda sul-coreana, flerta o tempo inteiro com os limites do melodrama.

Das panorâmicas em câmera lenta dentro do vagão, com pianinho acompanhando, aos planos posados do elenco cabisbaixo, passando pelos cruciais planos-detalhes (imagens de mãos retesadas, olhos tensos, cabelos molhados, o choro da criança), tudo em Invasão Zumbi evoca uma teatralidade que talvez nos pareça estranha às vezes, acostumados que somos com os marrentos blockbusters americanos. Não há carão possível no filme de Yeon Sang-ho, apenas a postura reativa, primal, de quem se vê diante de uma realidade que testa todas as suas concepções sobre empatia e civilidade.

No cinema de ação é essencial entender o valor da reação. No fim, à falta de uma grande conclusão sobre o estado do mundo, Invasão Zumbi se faz no crescendo dessas reações, um tipo de dramaticidade e de entrega que tem pouco a ver com o triunfalismo que estamos habituados a acompanhar no cinemão ocidental.

Nota do Crítico
Ótimo