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Quem não conhece uma boa lenda urbana? São aquelas histórias como a da loira do banheiro, que aparece por todos os colégios do Brasil para qualquer estudante que a invoque ao praguejar três palavrões. O fetiche por esse tipo de conto já rendeu incontáveis conversas por acampamentos e mesas de bar mundo afora. Felizmente (ou infelizmente, no meu caso) a lenda da loira do banheiro jamais foi confirmada.
O Chamado (2002) conta a história de uma dessas lendas, sobre uma fita VHS que leva seu espectador à morte sete dias após tê-la assistido. Nesse tempo, o infeliz ainda é assombrado pela bizarra Samara Morgan, uma menina amaldiçoada que foi morta pela mãe adotiva. Considerado um dos melhores filmes de terror dos últimos anos, trata-se da refilmagem quase literal do japonês Ringu, de Hideo Nakata, 1998.
Nesta versão hollywoodiana, a jornalista Rachel Keller (Naomi Watts) investiga a morte da sobrinha, aparentemente relacionada ao tal VHS. Com a competentíssima direção de Gore Verbinski e a fotografia de Bojan Bazelli, o filme supreendeu o mundo ao apresentar uma atmosfera sinistra e fatos estranhos que não são necessariamente explicados - elementos típicos do horror japonês. A suspensão temporária da descrença faz-se primordial para entrar no clima da história. Como em toda lenda urbana, não adianta perguntar ou tentar entender os fenômenos. O bizarro é bizarro e pronto!
E haja suspensão temporária da descrença para assistir a O Chamado 2, agora dirigido pelo criador da franquia: Hideo Nakata. O filme continua a história do primeiro, com Rachel e seu filho Aidan (David Dorfman) recomeçando suas vidas após terem sido assombrados por Samara. Mas como tudo que é bom dura pouco (e, em Hollywood, gera continuações), a tranquilidade deles é logo interrompida.
Um adolescente (sempre eles) acaba morto após assistir a uma cópia da fita amaldiçoada e, para piorar, a terrível Samara continua assombrando Rachel, com o objetivo de possuir o corpo de Aidan. A trama se aproxima superficialmente dos personagens e introduz novos, como a dispensável mãe natural da fantasminha nada camarada.
Sem os elementos surpresa gastos no primeiro filme - como a expressão assustadora de Samara, o estado em que ela deixa suas vítimas e os apavorantes cinco minutos finais - não há muito o que se fazer a não ser seguir por um caminho seguro. Foi exatamente esta a decisão tomada pelos produtores e, até certo ponto, eles estão certos. A história repete alguns elementos do primeiro, reproduz com fidelidade seu clima sombrio e nos dá alguns sustos aqui e acolá. Se por um lado o filme fica muito aquém de seu predecessor, por outro ele ao menos se salva do constrangimento típico das continuações do gênero. Acredite, se você achar O Chamado 2 ruim, agradeça aos céus por não ter visto o original japonês (Ringu 2), que nos apresenta uma bizarra versão da Samara, mais veloz, mais furiosa... e em papel machê. Isso sim é que é um horror!