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O Lenhador | Crítica

<i>O lenhador</i>

03.03.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H17

O lenhador
The Woodsman
EUA,
2004
Drama - 98 min.

Direção: Nicole Kassell
Roteiro: Steven Fechter

Elenco: Kevin Bacon, Kyra Sedgwick, Mos Def, Benjamin Bratt, David Alan Grier, Eve, Kevin Rice, Michael Shannon, Hannah Pilkes, Carlos Leon, Gina Philips

Sargento Lucas odeia pedófilos. Vigia Walter, criminoso em liberdade condicional, com desconfiança agressiva. Vivido pelo rapper Mos Def, o policial visita a casa do homem que passou doze anos encarcerado - papel de Kevin Bacon - sempre na ânsia de fazê-lo voltar para a prisão.

Certa tarde o sargento relembra a história de Chapeuzinho Vermelho. Não fosse o lenhador cortar o lobo ao meio, a menina não teria sobrevivido. "O mundo não tem mais lenhadores", sacramenta Lucas, sugerindo que Walter merecia mesmo é a pena de morte.

A imagem cai muito bem no drama O Lenhador (The Woodsman, 2004), da roteirista e diretora debutante em longas Nicole Kassell. Para tentar se reintegrar à sociedade, Walter arruma emprego numa madeireira. Agora visita um terapeuta para entender a psicopatia contra a qual luta tanto. Nunca antes de ser condenado agrediu ou matou as meninas que bolinava - mas aos olhos dos outros é apenas um monstro. Na fábrica Walter responde, ironicamente, pela serra elétrica.

No atual cinema adulto e autoral de Hollywood, aquele que o Oscar gosta de privilegiar, culpa e redenção são dois tema recorrentes. São os motes principais de O Lenhador e também de outro filme que a modesta companhia de Lee Daniels produziu, A Última Ceia (Monsters Ball, de Marc Forster, 2001). Em ambos os filmes a descoberta do amor serve de caminho de expurgação. Desmistificar tabus parece ser a especialidade da casa. E a trama depurada por Nicole Kassell, baseada em peça de Steven Fechter, trata o pedófilo com a mínima compaixão que uma pessoa em busca de tratamento merece.

A atuação minimalista de Kevin Bacon, premiada no Independent Spirit Awards, contribui demais para o rendimento do filme. Bastam uma testa franzida e um olhar perdido no vazio, tiques espantosamente cheios de expressão, para sentirmos o seu drama. Até chegar o clímax do filme - quando o lobo colocará à prova no bosque, diante da sua chapeuzinho, o desejo de virar lenhador - esperamos o pior. O Walter de Kevin Bacon se mostra tão frágil que não seria surpresa se implodisse em recaídas.

O grande mérito de Nicole é construir um exame moral introspectivo e, ao mesmo tempo, não dispensar essa tensão crescente, digna dos grandes suspenses. Usando termos castigados e pontuais - vamos falar a língua do mercado, já que o filme merece ser campeão de bilheteria - dá para dizer que o eletrizante O Lenhador prende o espectador na poltrona do início ao fim.

Nota do Crítico
Ótimo