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Crítica

Planeta do Tesouro | Crítica

Uma mescla exemplar de animação tradicional e computação gráfica

10.01.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H13

Trabalhar no setor de animação da Disney equivale a dirigir a seleção brasileira. A comemoração de um êxito dura até os preparativos do próximo desafio. Um resultado negativo significa cabeças a prêmio. Esse tipo de política pode simbolizar algumas injustiças ocasionais, como aquela que abate o subestimado Planeta do Tesouro (Treasure Planet, 2002), de Ron Clemens e John Musker.

O desenho foi orçado em 140 milhões de dólares, mas arrecadou nas bilheterias norte-americanas pouco mais de 35 milhões. Graças ao desempenho, a Disney cogita estabelecer um teto de 80 milhões por produção, o custo de Lilo & Stitch (de Dean deBlois e Chris Sanders, 2002). E o chefe da divisão, Thomas Schumacher, pensa em se demitir do cargo.

Uma mescla exemplar de animação tradicional e computação gráfica, a película não merecia tal destino. Curiosamente, o seu projeto data de 1985, época em que a dupla de diretores optou por produzir A Pequena Sereia (The Little Mermaid, 1989). Talvez, há duas décadas, sem a mesma concorrência de hoje, Planeta do Tesouro tivesse obtido sucesso.

A trama baseia-se no clássico A Ilha do Tesouro, que Robert Louis Stevenson (1850-1894) escreveu em 1883 e que a própria Disney traduziu em filme com atores reais, em 1950. A adaptação de 2002, porém, parte de uma premissa interessante: as velhas embarcações agora navegam movidas a laser pelo espaço sideral, alienígenas dos mais diversos gêneros e formatos figuram como piratas e até o tradicional papagaio transformou-se em uma simpática bolha mutante.

Essa mistura futurista-retrô serve de metáfora para o processo técnico. Planeta do Tesouro consegue aliar muito bem as partes criadas artesanalmente e aquelas geradas no computador. O maior exemplo é Long John Silver, o pirata cuja perna de pau e cujo gancho foram substituídos por partes biônicas: as partes humanas do seu corpo são feitas em animação tradicional, as mecânicas, digitalmente. Neste caso, fica difícil até distinguir as duas técnicas!

De resto, a história permanece encantadora e, inclusive, aceita de maneira pacífica os vícios da Disney, como a personagem cômica dispensável. Talvez Planeta do tesouro tenha falhado nas bilheterias por um motivo bem mais cruel. Não se trata do humor ligeiro de Lilo & Stitch, mas de um gênero edificante que já não agrada tanto o seu público-alvo.

Nota do Crítico
Bom