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Rio de Jano | Crítica

<i>Rio de Jano</i>

05.02.2004, às 00H00.
Atualizada em 05.02.2017, ÀS 14H07

Rio de Jano
Brasil, 2003
Documentário - 73 min.

Direção: Anna Azevedo, Renata Baldi e Eduardo Souza e Lima

Talvez o aspecto mais interessante do documentário Rio de Jano seja a sua simplicidade e, conseqüentemente, sua informalidade.

Durante 73 minutos acompanhamos o cartunista underground Jano (pronuncia-se Janô), francês pouco conhecido do público brasileiro, percorrendo diversos locais da cidade do Rio de Janeiro. Sem pompa ou badalação, o filme não tenta endeusar a figura do artista, que faz questão de misturar-se aos cariocas da maneira mais natural possível.

Desta forma, é possível seguir as andanças de Jano durante 50 dias. No período ele conheceu pessoas e lugares que representam o verdadeiro carioca, fugindo de estereótipos como a violência ou o carnaval. Obviamente, pontos turísticos da Cidade Maravilhosa também estão no filme, mas o que realmente importa é o elemento humano, retratado de maneira soberba pelo quadrinhista parisiense. Ele mesmo traça um paralelo de seu trabalho com o projeto de outro francês, Jean Baptiste Debret, que retratou em aquarela a vida das diversas classes sociais no Brasil no século XIX.

Munido de seu bloco de desenho, canetas esferográficas e lápis de cor, Jano vai conquistando a simpatias das pessoas por onde passa justamente por não posar de artista ou antropólogo que traz um olhar de fora sobre o Rio "real". Em meio a essa busca pelo verídico, é no mínimo inusitado ver as pessoas desenhadas como animais antropomórficos e ver como Jano consegue sintetizar a essência de cada tipo humano por ele representado na forma de coiotes, onças, urubus, etc.

Tímido e de fala mansa, Jano fica até meio constrangido quando uma senhora lhe diz que não fica bem desenhar as pessoas do Rio com cara de bicho, ou quando uma cabeleireira o reconhece na rua depois de uma matéria no programa Fantástico, da Rede Globo. E sem mudar seu jeitão, ele distribui desenhos às crianças curiosas que o abordam enquanto trabalha e conversa com um fã suíço no meio da rua com a mesma naturalidade. É nesses momentos sutis que o documentário ganha força.

Já seu trabalho é apresentado ao público através da fusão de imagens reais com o resultado da exploração, o livro Cadernos de Viagem - Rio de Janeiro (editora Casa 21). Além disso, para situar melhor o espectador sobre a obra de Jano, há diversos depoimentos do artista sobre seus personagens e livros mais famosos.

Um ótimo começo para o trio de diretores debutantes Anna Azevedo, Renata Baldi e Eduardo Souza e Lima cujo filme, ao terminar, deixa a platéia com a agradável sensação de ver um (bom) vídeo de viagem, que registra o melhor lado do Rio.