Max Barbakow foi aos poucos ganhando espaço em 2020, ainda na época da pandemia, com uma releitura moderna de Feitiço do Tempo, clássico de 1993. Em Palm Springs, Andy Samberg e Cristin Milioti formaram uma dupla que segurava tanto a comédia quanto o drama, a partir do carisma e da habilidade do diretor em trabalhar a dinâmica do "dia da marmota" de um jeito que ao menos parecia fresco. Com Irmãos, nova produção do Prime Video, o diretor busca inspiração - e até mais do que isso - em outra comédia: Gêmeos, com Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito. Mas o resultado passa longe do sucesso do filme anterior.
Moke (Josh Brolin) e Jady (Peter Dinklage) são gêmeos que, após a mãe os abandonar durante uma fuga com esmeraldas, acabam virando criminosos, até que Jady é preso. Após isso, Moke tenta levar uma vida normal ao lado da esposa grávida, até que o irmão sai da cadeia e os dois embarcam em uma perigosa viagem para realizar um último assalto. Durante o trajeto, a dupla discute a relação e tenta reconciliar suas diferenças antes que a missão falhe. Claro, a mãe (Glenn Close) volta ao jogo e um polícial corrupto e esquentado (Brendan Fraser) fica na cola deles.
Irmãos é um filme que não apresenta nenhuma na história. Dos arquétipos dos protagonistas - um criminoso e espertalhão, o outro pacato e querendo andar nos trilhos - até o desenvolvimento da história, tudo é muito fácil de prever. É um amontoado de clichês que passa ainda por uma participação especial de Marisa Tomei, que também volta a fazer o mesmo tipo de papel de sempre, com um tom "chapado" para parecer engraçada e, no fim das contas, paranóica. Pelo menos, o único momento genuinamente engraçado do filme acontece quando ela e seu "pet" estão por perto. Há também um mérito para Josh Brolin ali.
Aliás, ele e Dinklage até se esforçam para dar alguma graça à história. A semelhança entre os atores é curiosa, mas nunca aproveitada pelo diretor. Tirando o fraco conflito com a mãe, nada justifica que o filme seja contado do ponto de vista de dois irmãos gêmeos. O roteiro de Etan Cohen (não confundir com Ethan Coen, dos irmãos diretores) e Macon Blair, precisa o tempo todo que eles fiquem falando da matriarca para reforçar seu laço. É um desperdício do talento de ambos, que ali pelos 30 minutos de filme ainda ensaiam algum brilho, mas logo voltam a não ter o que fazer, além de gritar um com o outro.
O mesmo vale para Glenn Close e Brendan Fraser. O ator parece saído diretamente das comédias que fazia pós-A Múmia, como Monkeybone: No Limite da Imaginação e Polícia Desmontada. É uma comédia histérica, baseada na gritaria, que poderia ser fundamentada no roteiro - já que o personagem de Fraser se sente culpado pela “fuga” de Jady e quer o tesouro dos irmãos -, mas que desde o início se mostra desproporcional e sem inspiração. Glenn Close até tenta algum humor físico, correndo pelos cenários pobres da produção, mas acaba tendo que se segurar por conta de um drama barato e uma dúvida de caráter que ninguém duvida.
Irmãos é uma grande decepção para quem gostou de Palm Springs. Não há a qualidade narrativa, técnica e de direção de atores, que fizeram do filme de 2020 uma grata surpresa em meio aos títulos de streaming e outros lançamentos corridos para fugir do fechamento dos cinemas. Um desperdício do talento de quatro grandes atores e do uso de uma ideia que quase justifica o porquê do filme de Schwarzenegger e DeVitto nunca ter tido a continuação que os fãs sempre pediram. No fim, é melhor apenas rever o clássico.