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Crítica

Jackpot: Loteria Mortal é um completo absurdo - e é exatamente isso que o salva

Comédia de Paul Feig conquista ao resgatar o espírito dos filmes de Jackie Chan

19.08.2024, às 16H52.
Atualizada em 20.08.2024, ÀS 14H31

"É tão ruim que fica bom". Esta é uma frase que se tornou popular entre os amantes da cultura pop para descrever filmes que, de uma forma ou de outra, os deixam constrangidos por terem gostado. No caso de Jackpot - Loteria Mortal, novo lançamento original do Prime Video, talvez seja um exagero rotulá-lo desta forma, mas a expressão chega perto o bastante de representá-lo.

Exagero porque Jackpot não é necessariamente um filme ruim. Em tempos nos quais a bilheteria é ditada por cifras milionárias e praticamente canibalizou produções mais independentes e/ou autorais, a comédia de ação de Paul Feig teria vida dura no circuito de cinema tradicional - ainda este ano, O Dublê fracassou mesmo com Ryan Gosling e Emily Blunt à frente do elenco e um caminhão de dinheiro investido. Por conta disso, serviços de streaming como o Prime Video se tornaram a principal opção para projetos do gênero.

Se Jackpot tivesse sido lançado há alguns anos, seria um título que se encaixaria perfeitamente nas características de um "filme da Sessão da Tarde". A insana premissa em que, em um futuro próximo, o ganhador da loteria é decidido não por aquele que tem o bilhete premiado, mas sim por quem mata o vencedor, só serve de desculpa para colocar dois dos principais nomes da comédia norte-americana atual (John Cena e Awkwafina) para esbanjar seus talentos cômicos em cenas de ação inspiradas nos filmes estrelados por Jackie Chan em seus tempos áureos no cinema chinês e em Hollywood.

O próprio Feig descreveu publicamente o longa como o "filme de Jackie Chan que sempre quis fazer". E o cineasta, de fato, não perdeu a oportunidade ao fazer de John Cena a sua versão ocidental e bombada de diversos personagens da carreira do astro chinês. Na trama, o ex-lutador de MMA vive Noel, um ex-mercenário com um senso ético e de justiça quase irreal que se prontifica em ajudar Katie (Awkwafina), a detentora do bilhete premiado, a sobreviver durante as horas nas quais o governo permite o seu assassinato.

Para evocar o espírito dos filmes de Chan, o diretor abusa da (também insana) importante regra imposta pelo governo: não é permitido o uso de armas de fogo. Desta forma, Cena tem o caminho aberto para protagonizar cenas de luta muito bem coreografadas, com direito a carregar Awkwafina nas costas e quebrar diversos itens aleatórios nas cabeças de vilões, de cadeiras a pratos de bateria - tudo ao mesmo tempo. Entre um soco e outro, comentários aleatórios colocam um sorriso no rosto, mesmo que você não entenda realmente o motivo de estar sorrindo.

Jackpot é claramente um entretenimento não sofisticado, a menos que você conte Cena e seus 1,85m de altura pisando na virilha em chamas de um homem e se desculpando com: "É um pênis machucado ou um pênis queimado" como humor de alto nível. Mas o roteiro de Rob Yescombe investe em diálogos genuinamente engraçados o suficiente para tornar o filme ótimo para uma tarde de domingo, mesmo que seja necessário fechar os olhos para o vilão cararicato de um subaproveitado Simu Liu.

Essa mistura de insanidades em Jackpot talvez não funcionasse se o filme não contasse com Feig, Cena e Awkwafina. O diretor investe no mesmo humor verborrágico que fez o seu Missão Madrinha de Casamento um grande sucesso e coloca a dupla de atores para carregar toda a comédia do filme nas costas. A história principal da matança permitida, que nada se aproxima do discurso político adotado em franquias como Uma Noite de Crime, acaba ficando em segundo plano - e não há problema nisso. No final, às vezes, nós só queremos assistir a um brutamontes bem educado chutando bundas de vilões sem ver a hora passar.

 
Nota do Crítico
Bom