Matt Damon tem um total de 25 falas em Jason Bourne, retorno à franquia tanto do ator quanto do diretor Paul Greengrass, quase dez anos depois de O Ultimato Bourne. Quem fez a conta é o próprio Greengrass numa entrevista ao Guardian. O diretor diz que já tinha consciência desse silêncio nos filmes anteriores; para ele o que define Bourne é a violência e as situações de ação.
A inabilidade do personagem de botar para fora seus traumas, porém (de uma forma que não seja só quebrando tudo), contamina todo este quinto filme da série. É o primeiro que não se baseia diretamente em um livro de Robert Ludlum, e Greengrass, co-autor do roteiro, esboça fazer uma discussão sobre segurança nacional que passe por temas de anarcoativismo, excessos de vigilância e invasão de privacidade institucionalizada. O problema é que o diretor, assim como seu herói, não parece muito disposto a verbalizar essa discussão além de clichês de liberdade e patriotismo.
Embora as duas principais sequências de ação entreguem o que promete - a primeira, na Grécia, joga com a ideia de vigilância total e empolga quando nos sonega informação visual com fogo e fumaça, e a segunda, no clímax em Las Vegas, é válvula de escape pura e simples de cinema de destruição - falta a Jason Bourne justamente mais substância. Já sabemos do que Greengrass é capaz com sua câmera nervosa, e não há nada aqui em termos de ação ou narrativa que sirva de evolução, em relação à trilogia original. A evolução estaria justamente na atualização da discussão política, que o filme é incapaz de articular.
O diretor faz parecer que está realizando um suspense político complexo: seus personagens se comportam com a frieza e os movimentos calculados daqueles personagens que povoavam a Casa Branca do The West Wing de Aaron Sorkin. Basta uma cena mais robusta de embate filosófico ou mesmo de resolução de conflitos (como o almoço do chefe da CIA com o midas do Vale do Silício, ou o encontro de Bourne com o Julian Assange fictício do filme), para que as coisas se reduzam aos maniqueísmos. O clímax com o duelo entre Bourne e o chefão é o maior exemplo, com aquelas falas estereotípicas de filme de ação de macho, tipo "você sabia que terminaria assim" e "faça o que veio fazer". Até o Assange sabe dar seus golpes.
Bourne pode ser o tipo de poucas palavras, mas num filme que se propõe discutir atualidades de forma frontal, falta colocar o dedo na ferida de verdade, ou pelo menos ter bons coadjuvantes que consigam verbalizar a discussão direito. Na verdade, o melhor de Jason Bourne é outra coisa, é a participação de Alicia Vikander como a profissional da CIA que nos faz crer que é uma grande patriota mas se revela uma perfeita self-made woman, ambiciosa e determinada. Filmes como A Hora mais Escura sabem tocar bem nessa questão da guerra como uma questão de tecnocracia, e agora é Bourne que precisa correr atrás.