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Johnny e June | Crítica

Johnny e June

09.02.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H19

Johnny e June
Walk the Line
EUA, 2005
Drama, 136 min

Direção: James Mangold
Roteiro: Gill Dennis, James Mangold

Elenco: Joaquin Phoenix, Reese Witherspoon, Ginnifer Goodwin, Robert Patrick, Dallas Roberts, Dan John Miller, Larry Bagby, Shelby Lynne, Tyler Hilton, Waylon Payne, Shooter Jennings, Sandra Ellis Lafferty, Dan Beene, Clay Steakley, Johnathan Rice

Em uma banca de apostas cinematográficas, poucos lances são mais arriscados do que a cinebiografia de um músico. São raras as vezes que a indústria hollywoodiana consegue combinar a sua máquina de moer entretenimento com o respeito à vida e obra dos biografados. É só pensar e constatar: podemos contar em poucos dedos os resultados realmente bons. No grosso, o que vem a público são exageros bobos em detalhes polêmicos, atuações canhestras e deturpações gratuitas dos personagens.

Nesse sentido, Johnny & June (Walk the line, 2005) é a redenção suprema. O papel central é de Johnny Cash (Joaquin Phoenix), músico country que figura entre os nomes mais emblemáticos dos últimos 50 anos e que influencia o rock desde as suas raízes.

O filme não se propõe a nenhuma inovação dentro do seu gênero. Vai da infância de Cash no Arkansas, retratando a sua relação paternal com o irmão mais velho (um prólogo, aliás, que remete ao nosso 2 filhos de Francisco, veja só), passa pelos seus primeiros anos de carreira, depois de cair nas graças de Sam Phillips e sua Sun Records, e seu encontro com sua eterna musa June Carter (Reese Whiterspoon), e culmina no show dentro da prisão de Folsom, em 1968, gravação que rendeu um de seus álbuns mais icônicos. É a biografia per se.

O que eleva o filme do seu provável status banal, além da força da história, é a rara combinação de uma equipe em sintonia. O diretor James Mangold voltou a acertar a mão como em Garota, interrompida (Girl, interrupted, 1999), a fotografia é bela e o figurino, impecável. Mas quem bota fogo na coisa toda é mesmo a dupla de atores principais.

Joaquin Phoenix mergulhou no papel de Cash de forma assustadora, encarnando o cantor em todas as suas nuances. Na postura e na voz grave, no movimento irônico de colocar o violão nas costas, no olhar penetrante e na fúria de um homem que era conhecido pela cabeça esquentada. E Reese Whiterspoon, queridinha do melado cinema americano, ganhou muito sal com a personagem June Carter, talvez o real papel de sua vida - é difícil pensar em alguém melhor para absorver a caipirice fofa da cantora de forma não caricata.

Além dos dramas pessoais, a música também é bem tratada em Johnny & June. Phoenix e Whiterspoon escancaram suas aulas de canto nas impecáveis performances ao vivo dentro do filme. A outra surpresa, no elenco coadjuvante, foi a escolha de músicos para interpretar os companheiros do casal Cash nas turnês. Elvis, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, toda a mitologia é recriada com fiel dignidade.

O grande porém fica por conta das modificações criadas pela distribuidora nacional. O estupendo cartaz original foi trocado por uma foto do casal que, aliada ao "inventivo" título novo, rebaixa o filme ao posto de uma comédia romântica qualquer, ante um desavisado. Tudo bem que Johnny & June retrata a história de amor mais bela do rock, mas não precisava exagerar.

Nota do Crítico
Ótimo