Kill - O Massacre no Trem não é o tipo de filme que se permite analisar apenas pelo apelo do título. Basta assistir aos trailers para entender que, sim, o tal massacre está lá acompanhando uma trama orientada pelas cenas de ação, mas nuances e motivações atravessam a narrativa para subvertê-la.
A trama coloca o oficial do exército Amrit Rathod (o estreante Lakshya) dentro de um trem, com destino a Nova Deli, que está na mira de 40 bandidos. Amrit subiu na comitiva ao lado de seu melhor amigo e colega soldado Viresh (Abhishek Chauhan) na esperança de impedir o casamento arranjado de sua amada Tulika (Tanya Maniktala), cujo pai (Harsh Chhaya), um rico e poderoso empresário, não quer vê-la com alguém como Amrit, de classe social mais baixa.
O romance proibido à Romeu e Julieta ganha contornos sanguinolentos quando um grupo de ladrões decide agir; Amrit e Viresh se veem obrigados a revidar para proteger a família de Tulika, e uma sequência interminável de confrontos extremamente violentos tem início. É a partir daí que a expectativa de mais um espetáculo vertiginoso do cinema indiano de ação se inverte - não se trata de uma história de amor e vingança usada de pretexto para a porradaria, é mais uma porradaria nuançada com surpresas.
Há mais no subtexto de Kill - O Massacre no Trem do que indica o título chamativo. Embora a escalada da violência e sua variedade permaneça um forte apelo, o roteiro escrito pelo diretor Nikhil Nagesh Bhat bebe mais de obras socialmente carregadas como O Expresso do Amanhã do que exatamente de uma carnificina linear no estilo John Wick. Quem lembra do subtexto político e da convocação nacionalista de um longa como RRR talvez esteja mais próximo de captar o que Kill propõe. Nada é preto no branco dentro do trem, e a capacidade de criar o mínimo de empatia com protagonistas e antagonistas deixa claro que, apesar de prioritária, a coreografia de ação nunca é o único fio condutor.
De qualquer forma, mesmo como exercício de gênero o longa se diferencia. Bhat faz bom uso da locação para inovar em suas cenas de luta. A trocação de socos de Amrit com os bandidos chega a ser claustrofóbica dentro dos corredores minúsculos de um trem abarrotado de passageiros, e sua câmera inquieta impulsiona a fisicalidade dessas sequências. Mesmo quando surge um ar cômico com mortes mais plásticas e surreais, que aproximam o longa de uma linguagem cartunesca, o diretor evita cair na armadilha da galhofa que poderia tornar a experiência menos impactante.
Para além de uma eventual mensagem que tenta verbalizar, Kill é um filme de ação que convence pela energia e pelo entusiasmo com que desenrola sua jornada. Se os longas de ação indianos provam título após título que estão fazendo justiça ao cinema de ação mundial e devolvendo ao gênero seu vigor perdido, Kill dá sua contribuição à tendência. É um filme que não mede esforços para entreter.