Embora diga em entrevistas que evitava cair nas armadilhas das continuações - contar com um orçamento maior e fazer um filme mais barulhento e explosivo - o diretor Matthew Vaughn não seguiu à risca o próprio discurso. Em Kingsman: O Círculo Dourado, continuação do longa feito por Vaughn em 2014, o que vemos é uma versão mais inchada e desfocada de Kingsman.
O novo filme reaproveita os elementos mais marcantes do anterior - a ação estilosa e o humor sexista - mas amplia o escopo, e multiplica o elenco. Astros dos dois lados do Atlântico povoam uma trama que começa com o fim da agência de espiões Kingsman e a entrada de uma contraparte americana, os Statesmen. As piadas sobre as diferenças culturais dos dois países surgem no começo para definir essas relações mas rapidamente o filme parte para aleatoriedades, particularmente nas viradas pouco convincentes de roteiro, escritas a toque de caixa, como o entra-e-sai de personagens e suas motivações.
A matriz continua sendo a mesma: o lado mais lúdico dos filmes de James Bond, com seus vilões extravagantes, ação mirabolante e suas tecnologias de ficção científica. Particularmente a fase dos anos 1970, estrelada por Roger Moore, serve de inspiração para Kingsman 2, que recicla esse referencial de forma desapegada para atualizá-la a um público que aprendeu hoje a lidar com tudo na base da ironia.
No geral, o filme parece tirar elementos de um saco de bingo (como naquele episódio de South Park em que eles parodiam a forma como Family Guy cria suas piadas) sem se preocupar com como eles se organizam. Com exceção de uma outra coisa contemporânea na premissa (a justificativa da vilã, o presidente americano inspirado em Donald Trump), tudo é atemporal na generalização. Em termos de ação, Vaughn mantém o estilo de câmera que havia se destacado em Kingsman, com os chicotes entre close-ups, mas a novidade é o senso de escala, ampliada para dar a tudo um tom mais megalomaníaco.
O novo Kingsman parece se justificar apenas pela expectativa de gerar uma nova franquia. O desfecho deixa ganchos que não apenas ampliam o leque de opções para o terceiro longa como também para derivados. Assim, o que começou como um alento engraçado no meio de blockbusters sisudos rapidamente se transforma no produto hollywoodiano típico, serializado e marrento, e Kingsman nem parece ter sentido que já foi atirado no moedor de carne.