Que os temas orientais rendem ótimos filmes, Hollywood já sabe desde antes de adaptar Os Sete Samurais para o faroeste Sete Homens e um Destino pela primeira vez, em 1960. Suas metáforas, seus temas, seus cenários já haviam trazido recentemente a ótima série animada Kung Fu Panda, que une ação, comédia e um visual incrível. Kubo e as Cordas Mágicas (Kubo and the Two Strings, 2016) é uma versão meio hipster da mesma fórmula, que troca a animação em computação gráfica pelo stop-motion, a China pelo Japão e os lutadores antropomórficos pela magia.
Desde o começo do longa-metragem vemos que há algo de especial no menino Kubo. O protagonista era apenas um bebê quando seu pai, um grandioso samurai chamado Hanso, é morto pelo Rei Lua e suas duas filhas. Na batalha, o menino perde seu olho esquerdo. Quem salva Kubo é sua mãe, também filha do Rei Lua e dona de poderes mágicos que seu filho acaba herdando.
É usando este dote familiar e o dom de contar histórias que Kubo ganha a vida durante o dia. Enquanto há sol, ele corre até a vila mais próxima e toca seu shamisen (espécie de banjo de três cordas), fazendo com que pedaços de papel virem origamis de samurais, espadas e tudo mais que uma grande aventura precisa. Ao soar do sino do pôr do sol, ele volta correndo para a caverna onde está sua adoecida e desmemoriada mãe, que não se cansa de lembrá-lo de que ele não deve sair à noite, pois suas tias e seu avô estão à sua procura, para arrancar-lhe o outro olho.
Os motivos deste drama familiar serão contados com a ajuda de um macaco, um samurai-besouro gigante e muito bom humor, que vem para balancear o tom mais sombrio que pode chegar a assustar as crianças menores que se aventurarem ao cinema. Há nesta nova animação do estúdio Laika um equilíbrio de conteúdo infantil e adulto que eles ainda não haviam conseguido mostrar em suas produções anteriores, como Coraline, ParaNorman e BoxTrolls.
Os japoneses mais puristas podem vir a reclamar que há uma ocidentalização muito grande na trama - o que é verdade -, mas é inegável o respeito do diretor Travis Knight pelo tema. Os cenários, os figurinos e a trilha sonora homenageiam o tempo todo a cultura nipônica, tornando Kubo uma bela mistura entre o que há de melhor na animação hoje em dia. Para ficar perfeito, só faltou colocar uma protagonista feminina, como já faz o mestre Hayao Miyazaki há muito tempo.