Filmes

Crítica

Lilo & Stitch | Crítica

Uma ótima animação que troca as canções orquestradas da Disney por uma boa coletânea do Elvis

28.06.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12

Mais do que a temporada em que foi entregue o primeiro Oscar de animação, o ano de 2001 mostrou à Disney que o simples carimbo do seu selo de qualidade não garante a supremacia nas bilheterias infanto-juvenis.

Depois de assistir, em plenas férias escolares, à submersão de Atlantis - O Reino Perdido (Atlantis: The Lost Empire, de Gary Trousdale e Kirk Wise, 2001), diante do escracho deselegante e divertidíssimo do ogro Shrek (Shrek, de Andrew Adamson e Vicky Jenson, 2001), a companhia aprendeu a lição. Tanto que, nas campanhas promocionais de Lilo & Stitch (Lilo & Stitch, de Dean Deblois e Chris Sanders, 2002), a Disney utilizou um artifício pouco convencional.

Em um dos seus trailers, Stitch, um alienígena azul, pequenino e tresloucado, praticamente atropela a Pequena Sereia com a sua prancha de surfe. Em outro, arma uma confusão no salão principal da mansão de A Bela e A Fera. Nem o Rei Leão, nem Aladin, outros personagens popularíssimos da Disney, escapam da esculhambação de Stitch. Devem pensar os executivos da Disney: "Se a Dreamworks, produtora de Shrek, pode rir da gente de modo escancarado, por que não fazemos isso por nossa própria conta, e ainda faturamos?". Uma pena, as hilariantes auto-referências do estúdio estão presentes apenas nas peças de divulgação, não no longa-metragem - mas já servem para demonstrar o enfoque debochado da produção.

Feições esquisitas

Num ensolarado vilarejo do Havaí, onde a jovem orfã Lilo vive com Nani, a sua irmã mais velha, a natureza faz parte do cotidiano das pessoas. Aos cinco anos de idade, Lilo não possui muitos amigos, apenas mantém o costume diário de coletar lixo das praias, alimentar os peixes marinhos e curtir o Rock dançante de Elvis Presley, como qualquer nativo típico. Quando encontra o bichinho Stitch, um suposto cão de feições esquisitas, Lilo decide adotá-lo. Mal sabe a menina, mas o atabalhoado animal azul, na verdade, fugiu de uma prisão interplanetária à bordo de uma nave roubada, depois de ser condenado por uma série de crimes impiedosos. Enquanto os seus comparsas, e a polícia estelar, vasculham o universo à procura do extraterrestre, Stitch se afeiçoa com a menina.

Assim, transformada pelas experiências passadas, a Disney não abandona o teor emotivo que comove as crianças e que caracteriza as suas animações, mas enriquece Lilo e Stitch com piadas e referências facilmente reconhecíveis pelos adultos. Também privilegia a animação tradicional, vivas aquarelas que compõem os cenários da ilha, em detrimento da computação gráfica. Deblois e Sanders dizem, aliás, que os seus paradigmas eram as animações dos anos 40 e 50. Nada de estética rebuscada ou de cenas épicas planejadas por dezenas de profissionais, apenas o foco na essência da trama, ministrada unicamente pelos dois diretores e um mero storyboard. E, para completar, ao invés de grandes orquestrações inéditas, a Disney forra o desenho com seis canções de Elvis - mais composições do que em qualquer película protagonizada pelo astro. Diversão mais pura e simples, impossível.

Nota do Crítico
Ótimo