Fez relativo sucesso nos anos 80 A Guerra do Fogo, filme francocanadense que recontava a história do domínio do fogo pelo homem. Levou prêmios, passava nas escolas etc., mas do ponto de vista antropológico era um desastre, com seus personagens pré-históricos que passaram a transar de frente, rosto a rosto, depois do passo civilizatório que foi a conquista da chama.
loup
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Loup - Uma Amizade para Sempre é outra produção francesa que romanceia o desafio do homem de dominar a natureza e propõe um olhar ingênuo do processo civilizatório - embutido a um esboço de discurso ecológico.
O protagonista é Sergei (Nicolas Brioudes), um jovem siberiano que chegou à idade de pastorear sozinho as renas do clã Batagi. O símbolo do amadurecimento é o rifle que ele ganha de seu avô, arma indispensável para defender o rebanho dos ataques dos lobos das montanhas. Em seus primeiros dias de trabalho, porém, Sergei encontra uma ninhada recém-nascida de uma loba - e se afeiçoa à matilha.
Sergei ainda não sabe mas é, obviamente, o agente civilizatório escolhido pelo diretor Nicolas Vanier (documentarista e explorador que se aventura aqui na ficção) para ensinar o clã a coexistir com os lobos com um pouco mais de "sensibilidade". É o velho olhar do ocidental sobre o mundo da subsistência - uma urgência de levar aos "selvagens" da Sibéria conceitos modernos e cosmopolitas de correção política.
E aí tome paralelismos entre o amor dos siberianos (o casal que transa na tenda sem preliminares, ato primal) e o afeto dos bichos (o lobo e a loba brincando na neve). É a ideia - novamente ocidentalizada - de que no "mundo natural" todos são puros, tanto os homens quanto os animais. Não por acaso, os melhores momentos do filme são aqueles que rompem essa harmonia encenada, quando o olhar de documentarista de Vanier não se furta a filmar pêlos ensanguentados em close-up.
Como Loup, no geral, é um filme sem muitas sutilezas - a bela paisagem vem infelizmente acompanhada de trilha sonora banal - chegam a ser engraçados alguns momentos de discurso deslocado, como a hora em que a mulher do chefe do clã diz que "um líder tem que saber evoluir". Soa como diálogo de coach motivacional. Aliás, se A Guerra do Fogo era um hit nas escolas, Loup parece pronto para ser exibido nessas palestras de auto-ajuda e gestão.