Nova produção da parceria de Larissa Manoela com a Netflix, Lulli destoa de Modo Avião e Diários de Intercâmbio, ressaltando as fragilidades da jovem atriz que ainda tem muito que aprender para consolidar sua transição para interpretações da vida adulta. Extrapolando a dose de clichês perfeitamente aceitáveis para comédias românticas de sessão da tarde, Lulli perde até os mais bem intencionados espectadores, com personagens antipáticas e esvaziadas de motivações claras.
Na tradição das produções recentes de Larissa Manoela, Lulli se propõe a explorar a trajetória de redenção e crescimento da protagonista, uma estudante de medicina ambiciosa e arrogante. De tão absorta em seus anseios profissionais, Lulli é incapaz de escutar as pessoas ao seu redor, seu namorado em crise existencial e mesmo sua supervisora da residência médica. Em consequência a suas atitudes irresponsáveis, a jovem é acidentalmente eletrocutada por um aparelho de ressonância magnética e, ao despertar do choque, percebe ter adquirido a capacidade de ouvir pensamentos alheios.
Sem qualquer contradição evidente, Lulli se vê desfrutando dos benefícios de saber o que todos estão pensando, embora siga afirmando não aguentar mais sua nova realidade. Ao passo que vários falsos conflitos são lançados ao longo da trama, nenhum deles é efetivamente explorado, culminando em uma narrativa frívola e sem razão de ser. Seja na forma dos receios do amigo Júlio (Sérgio Malheiros), atleta profissional preocupado com as pressões e os preconceitos no esporte, ou do namorado Diego (Vinicius Redd), assombrado por uma relação mal resolvida com o pai bem sucedido, as poucas possibilidades de sensibilidade do enredo são desperdiçadas e tratadas superficialmente.
Debates em torno de temas potentes e atuais, como sexualidade e saúde pública, são tocados quase que de forma imprudente e sem atenção, em um tom anacrônico digno do século passado. O próprio cerne da promessa de amadurecimento de Larissa Manoela - sua primeira cena de sexo - é executado com tamanha ingenuidade que sinaliza apenas o despreparo ou desinteresse da atriz em inaugurar de fato uma nova fase em sua carreira.
A narrativa de transformação de Lulli é fatalmente mal contada, diante da construção precária de uma personagem incoerente, cuja história de vida permanece alheia ao público durante todo o filme. Até mesmo o reconhecido timing acertado da protagonista para conquistar risadas de seus fãs desaparece em uma interpretação que provoca até desconforto. O saldo é de questionamentos: será que a fórmula já tão repetida pela atriz se esgotou? E será ela capaz de se reinventar para produções futuras? Lamentavelmente, nem os superpoderes de Lulli foram capazes de descobrir o que estavam pensando os idealizadores do longa, que conseguiram extrair o pior de Larissa Manoela e reduzir o roteiro de Thalita Rebouças a uma hora e meia de vergonha alheia.