Conhecido pelo sensível drama sobre depressão Oslo, 31 de Agosto (2011), o diretor dinamarquês Joachim Trier faz do seu primeiro filme com elenco hollywoodiano, Mais Forte que Bombas (Louder than Bombs, 2015), uma extensão temática do longa anterior. Com um elenco maior e uma falsa trama-mosaico, Trier dá um passo mais ambicioso no sentido de analisar efeitos variados da depressão.
O filme conta a história de Jonah (Jesse Eisenberg), que acaba de virar pai, e dos seus familiares. A mãe (Isabelle Huppert), célebre fotógrafa de guerra, morreu em um acidente de carro dois anos antes. O pai (Gabriel Byrne) tenta recomeçar a vida amorosa aos tropeços. O irmão mais novo (Devin Druid), típico adolescente com o caráter em formação, tem seus dilemas agravados pela ausência materna. Todos são obrigados a lidar com o luto, quando organiza-se uma exposição de arte em memória da fotógrafa.
Mais do que um típico drama de acerto de contas com o passado, Mais Forte que Bombas trata de acertos com a imagem que projetamos e com o que os outros esperam de nós - na vida adulta, no convívio social. Não é exatamente da depressão como um estado clínico que o filme fala (embora um caso específico de quadro de depressão seja o motor da trama), mas mais do perigo do isolamento e da alienação. Se Oslo, 31 de Agosto, com seu protagonista zumbi revisitando os endereços do seu passado, num único dia e numa única cidade, era um filme sobre um isolamento aqui e agora - estar presente mas não estar de fato - Mais Forte que Bombas adiciona ao drama a alienação no tempo, na história, no luto que ameaça desfazer certezas antigas.
O que temos aqui são personagens que, sem sua bússola, a mãe, perdem o norte não apenas de quem são mas de quem foram. As fotografias são fundamentais no filme não apenas como instrumento de exposição (afinal, é uma trama sobre uma fotógrafa) mas também para colocar em questão essas imagens que projetamos dos outros e de nós, e na qual nos afiançamos mesmo sabendo que todos mudam com o tempo. Se o jovem visita uma antiga namorada e reage mal à forma como ela se lembra da fotógrafa - como se os outros obrigatoriamente devessem compartilhar esse retrato congelado das pessoas de quem gostamos - é porque há aí algum conflito, e Trier o aborda de forma sutil mas incisiva.
E Mais Forte que Bombas tem essa força - que aliás cai muito bem neste primeiro filme do dinamarquês feito com rostos consagrados do cinema mundial - que surge da metalinguagem. O personagem de Gabriel Byrne, não por acaso, é ex-ator, e as feições fortes de Isabelle Huppert (também não é coincidência que a personagem se chame Isabelle) são trabalhadas constantemente em close-ups, para que o espectador atente a essas presenças que se transformam ("como era bonito o ator na juventude") e que uma hora desaparecem (o longo plano estático no rosto de Huppert, eterna esfinge, quando ela se despede do filme).
Nessa combinação da imagem que os personagens projetam (o avatar do menino no game, as mentiras que o filho mais velho conta) com a imagem "de cinema" que inevitavelmente se desprende de Byrne e Huppert, Joachim Trier encontra um equilíbrio muito interessante: entre a pequena história de ficção que decidiu contar e o filme com astros que assumiu fazer, neste começo de carreira internacional.