Peço licença para começar este texto em primeira pessoa, mas preciso dizer que embora não fosse um fã dos Mamonas Assassinas, aprendi a admirar os caras. Conheci o grupo pessoalmente quando trabalhei na extinta 89 FM - A Rádio Rock e cheguei a ver uns dois ou três shows deles ao vivo e era impressionante a bagunça que apenas cinco pessoas conseguiam fazer em um local. A emissora foi a primeira em São Paulo a acreditar na banda (antes dela, só a Cidade FM, do Rio de Janeiro, havia tocado "Pelados em Santos"). Quando a música entrou na programação, causou estranheza. Ela era meio rock, mas tinha uma "pegada" cômica que quase eclipsava isso, com vocais que imitavam nordestinos e uma letra cheia de trocadilhos e malícia. Era estranho e da mesma forma que estourou poderia ter ficado lá na gaveta pegando poeira até hoje. Mas, ironicamente, deu tudo certo - até dar tudo errado.
Mamonas Pra Sempre
Mamonas Pra Sempre
Mamonas Pra Sempre
O documentário Mamonas Pra Sempre! está pronto desde 2009 e foi exibido em alguns festivais aqui no Brasil e também em Portugal, sempre com grande sucesso junto ao público. O carisma de Dinho, dos irmãos Samuel e Sérgio Reoli, de Júlio Rasec e de Bento Hinoto é impressionante e o vídeo - repleto de imagens de arquivo feitas pela própria banda - serve para mostrar que nada daquilo era premeditado. Eles fizeram sucesso sendo eles mesmos, fato que é dito repetidas vezes nas entrevistas com o empresário e produtor Rick Bonadio, familiares e demais entrevistados.
Do Utopia, banda de Guarulhos que fazia covers de Legião Urbana, Titãs e Rush, e tinha lá a sua meia dúzia de fãs, ao fenômeno Mamonas Assassinas, que enchia ginásios de esportes de crianças, adolescentes e adultos e fazia programas de televisão bater recordes de audiência, a carreira da banda está toda contada ali.
Como manda a regra dos documentários musicais, o filme vai contando a história mesclando entrevistas, cenas de arquivo e trechos de shows. Tudo bem quadradinho, bem roteirizado até o clímax, que mostra um desabafo de Dinho em um show na sua Guarulhos natal. Os depoimentos contextualizam o que aconteceu ali: cinco anos antes, na época em que o Thomeuzão foi inaugurado, Dinho foi pedir para que sua banda fizesse o show de abertura. O pedido foi negado. Onde muitos desistiriam, ele e seus amigos persistiram. E quando finalmente conseguiram tocar por lá, já no auge de sua popularidade, eles entram no palco sem as fantasias que ajudaram a torná-los populares. Depois de tocar músicas da época do Utopia, Dinho pegou o microfone e contou a forma como foi maltratatado e deu a volta por cima. Em um discurso de auto-ajuda de fazer inveja a muito palestrante por aí, ele pede a que cada uma das pessoas ali presentes que acreditem em si mesmos, que seus sonhos podem ser realizados, assim como os deles estavam sendo naquele momento. É um discurso cheio de raiva, alegria e muito energia. Contagiante, sem dúvida, e totalmente verdadeiro.
Como documento e, principalmente, pelo vasto arquivo pessoal liberado pelos familiares e pelas grandes emissoras de TV, Mamonas Pra Sempre! cumpre seu intuito inicial de eternizar o gigantesco sucesso que aqueles cinco meninos de Guarulhos fizeram em apenas 10 meses. A produção, porém, peca pela falta de cuidado estético. As entrevistas têm qualidade de vídeo de trabalho de faculdade (talvez por serem inicialmente apenas material de pesquisa que o diretor Claudio Khans fazia para escrever um roteiro ficcional sobre a banda) e as vinhetas, que tentam ser engraçadinhas como eram os Mamonas, mal conseguem arrancar um sorriso.
O filme vale como registro do grande fenômeno que foi a banda, que acabou sendo vítima de seu próprio sucesso. Um dos empresários lembra que a turnê deles, que compreendia até mais de um shows por dia foi toda montada pelo telefone, de acordo com o interesse dos empresários locais. O grupo tocava no nordeste em um dia, no sul no dia seguinte e tinha de aparecer nos programas dominicais, algo que só seria possível com um avião. Até que em 2 de março de 1996 eles voltavam de uma apresentação em Brasília e a brincadeira acabou. Era o último show da turnê brasileira. No dia seguinte eles seguiriam para Portugal e depois começariam a pensar em um segundo disco, com uma turnê melhor estruturada. Não deu tempo.
Mamonas Pra Sempre! | Cinemas e horários