Visitar os parques da Disney é uma experiência mágica, e muito válida se você puder pagar (caro) por ela. Infelizmente, alguém achou que as suas atrações também renderiam bons filmes. Foram diversas tentativas, como Jungle Cruise ou Tomorrowland para citar algumas das mais recentes. O erro desta vez é Mansão Mal-Assombrada, que estreia esta semana nos cinemas brasileiros.
O novo longa-metragem é inspirado em The Haunted Mansion, uma atração presente na Disneyland da Califórnia, no Magic Kingdom da Flórida e também nos parques de Tóquio, Paris e Hong Kong. É um dos brinquedos mais antigos, inspirado nas velhas mansões ao estilo vitoriano e na cultura da Louisiana. Nele você anda em uma espécie de “trem fantasma” por dentro de uma velha mansão, com almas penadas e outros seres sobrenaturais para te assustar.
A nova versão cinematográfica do brinquedo (porque ele já foi levado à telona com Eddie Murphy em 2003) tenta capturar esse espírito, com perdão do trocadilho. A obra, que mistura comédia com terror (fazendo o conhecido gênero terrir), traz uma mãe e seu filho (Rosario Dawson e Chase W. Dillon) se mudando - sem muita justificativa - para uma velha mansão em Nova Orleans. Lá, os dois são aterrorizados por inúmeras assombrações.
Para resolver a situação eles pedem ajuda de um padre (Owen Wilson), um físico transformado em guia turístico (LaKeith Stanfield), uma vidente (Tiffany Haddish) e um professor de história (Danny DeVito). Juntos, precisam descobrir o que está por trás da atividade paranormal no local.
A partir disso se sucede uma grande colagem de referências ao Haunted Mansion original, que foram somadas de forma desconjuntada aos clichês do terrir e aos protagonistas que tentam cativar o público e sustentar um fiapo de enredo que acaba não funcionando muito bem. Falta alma, ainda que diversas estejam passando pela tela.
Infelizmente, o roteiro de Katie Dippold falha por não se inspirar justamente na única adaptação de uma atração de parque que deu certo: Piratas do Caribe. Os três primeiros longas-metragens daquela franquia se empenharam em criar personagens realmente interessantes e carismáticos, para – aí sim – em seguida adicionar os elementos originais do brinquedo. Isso, somada a uma antológica atuação de Johnny Depp, criou um produto único. A nova versão de Mansão Mal-Assombrada consegue soar mais genérico até do que Jungle Cruise.
Pode-se argumentar que há um erro conceitual: com classificação indicativa de 12 anos no Brasil (PG-13 nos EUA), o longa pode soar bobo para quem tem essa idade para cima. Ao mesmo tempo, é difícil indicá-la para os mais novos: a história do vilão (Jared Leto) é um tanto quanto pesada.
Nem mesmo as atuações conseguem salvar o filme. Rosario Dawson e LaKeith Stanfield estão regulares em seus papéis; Jamie Lee Curtis tem poucas cenas, a maioria delas limitada a um aquário; Leto faz apenas trabalho de voz (ainda bem), e Owen Wilson interpreta o mesmo personagem de sempre. Embora seja sempre mágico ver Danny DeVito em cena, infelizmente temos pouco do talento do ator, com tantos outros disputando espaço na tela.
Se tem algo que se salva é mesmo o design de produção. Os artistas abraçaram esse visual brega-fantasmagórico dos parques, criando algo visualmente bonito – ainda que bem longe de ser assustador. Mesmo assim, Mansão Mal-Assombrada se assemelha a um genérico de Goosebumps, série de livros pré-adolescentes que abordava temas assustadores para criar entretenimento. A franquia deu origem a um seriado de TV nos anos 1990 e, mais recentemente, a dois longas-metragens. O primeiro deles é um terrir muito mais efetivo do que Mansão Mal-Assombrada, inclusive.
Parece que independente de qualquer coisa, os executivos da Disney não vão aprender. Eles já têm na manga uma nova adaptação de Tower of Terror (A Torre do Terror, em português), estrelada pela Scarlett Johansson, arrastando correntes por aí depois de se estranhar com o estúdio e o seu antigo CEO, Bob Chapek. Isso é o que podemos definir como uma maldição.