Por mais que tratasse sua premissa com plena seriedade lá no ano de 1989, Matador de Aluguel vem à memória hoje como aquela Sessão da Tarde envolta na galhofa da matinê. O filme de ação estrelado por Patrick Swayze ganha uma nova versão, protagonizada por Jake Gyllenhaal,que não tenta sair dessa caixinha. Na verdade, fica ainda mais confortável nela e se encontra no humor.
A premissa do original é mantida: o casca-grossa Dalton, nesse novo filme um ex-lutador de MMA — mais um lutador para o portfólio de Gyllenhaal —, é procurado para livrar um bar barra-pesada das constantes brigas e dos frequentadores pouco amistosos. O problema é que, quando o Dalton começa esse trabalho, ele entra em conflito com poderosos criminosos locais.
Tirando uma ou outra referência direta ao longa oitentista, a semelhança do novo Matador de Aluguel com o original para por aí. Se o primeiro tem uma estética muito própria dos filmes de ação de sua época, nessa releitura do consagrado tropo do lobo solitário que defende violentamente a vila de uma ameaça externa, aqui o diretor Doug Liman escolhe seguir por um caminho diferente, mais próximo do pastiche. A escolha faz sentido dentro da carreira de Liman, mas também para os nossos tempos, em que os filmes de ação e pancadaria pós-John Wick se reencontraram na veia cômica e na entrega mais imediata de coreografia de ação estilizada.
Aqui, os momentos engraçados não são apenas alívios cômicos pontuais, mas parte integral do texto, com Gyllenhaal brilhando na modulação entre humor e a porrada. Parece um encontro pronto para dar certo: Liman está antenado com o que de melhor é feito hoje em dia em Hollywood em termos de pancadaria, e por sua vez Gyllenhaal sempre se deu melhor nos papéis que pediam um registro de fisicalidade na beira do histrionismo.
O remake ganha frescor ao trocar o interior do Mississippi de 1989 pelas praias da Flórida dos dias de hoje, e dá motivações mais reais para os antagonistas. Destaque para a estreia em Hollywood do lutador de MMA Conor McGregor, um dos poucos atletas cuja fama transcendeu o UFC a não ter feito ainda um papel como capanga em algum blockbuster americano. McGregor agracia o filme com um vilão absolutamente maluco e psicopata.
Matador de Aluguel parece pronto, enfim, para marcar posição no streaming como aqueles longas baratos de ação que por muitos anos fizeram o ganha-pão de dezenas de profissionais do mercado direto-para-DVD. Não há um demérito nisso, mesmo porque muitos dos diretores que hoje prosperam em Hollywood retrabalhando o filme de pancadaria lapidaram seu ofício como atores, dublês ou coordenadores de dublês na virada do século em filmes para DVD. Liman não está entre eles, sempre fez seus filmes pop pensando na telona do cinema. Isso explica por que o diretor boicotou a pré-estreia do longa no SXSW (Liman queria um lançamento no cinema e a Amazon insistiu que se trata de um produto para o streaming). De qualquer forma, este Matador de Aluguel pode, no conforto da televisão, encontrar um público da mesma forma que o longa de 1989 o fez.