Divulgação

Filmes

Crítica

Meu Filho, Nosso Mundo discute paternidade por meio do autismo

Road movie de Tony Goldwyn aborda questões do espectro de forma honesta

01.11.2024, às 15H14.

Há uma mensagem importante, ainda que recorrente, no centro de Meu Filho, Nosso Mundo, história sobre um comediante de stand-up que faz o que acredita ser certo por seu filho autista de 11 anos. Mais do que explorar a realidade de uma criança que vive no espectro, o longa de Tony Goldwyn coloca o foco nos pais, e como o desafio de criar um filho neurodivergente pode jogar luz sobre as próprias projeções de quem responde por essa responsabilidade.

O toque pessoal nas discussões que Meu Filho, Nosso Mundo vem do roteirista Tony Spiridakis, que se inspirou em sua própria experiência como pai de um filho autista para abordar os dilemas envolvendo o protagonista Max (Bobby Cannavale). Diferentemente de produções como Atypical, cujo foco é o dia a dia de um jovem autista, Meu Filho, Nosso Mundo se concentra no papel do pai superprotetor, cuja condição o leva a questionar tudo e todos sobre o que é melhor para o seu filho.

Pontualmente, Max é incapaz de entrar em um consenso com a ex-mulher Jenna (Rose Byrne) sobre se a melhor opção para o filho Ezra (William A. Fitzgerald, um ator neurodivergente) é ingressar em uma escola para crianças com necessidades especiais após seguidas expulsões de colégios tradicionais. Inflexível, ele toma a questionável decisão de sequestrar o garoto e iniciar uma jornada através do país para se apresentar no programa de Jimmy Kimmel, no que seria a sua principal chance de voltar a ter sucesso na carreira, abalada pelo temperamento do comediante.

O longa de Goldwyn é um road movie bastante tradicional que aborda o autismo com um toque à la Rain Man. O egocentrismo de Max remete ao personagem de Tom Cruise no filme de Barry Levinson, mas com o diferencial de quem já sabe como lidar com as características de seu filho autista. O que Max acredita ser um ato de altruísmo para “salvar” Ezra das malícias do mundo é, na verdade, uma amostra de como ele também tem questões com as quais precisa aprender a lidar.

O texto de Spiridakis evidencia essas particularidades da personalidade de Max ao se aprofundar na relação entre ele e seu pai, Stan (Robert De Niro). O comediante carrega o trauma de ter sido responsabilizado pela ausência de sua mãe e tenta compensar o vazio com o próprio filho. É no contraste geracional na troca entre pais e filhos que Meu Filho, Nosso Mundo se prova um filme que tem muito mais a dizer sobre paternidade do que necessariamente sobre neurodivergência.

Goldwyn e Spiridakis não adoçam a narrativa com muito sentimentalismo, ainda que ela tenha a aparência de um filme feito para o streaming. Há cenas que podem significar gatilhos para algumas pessoas, mas nada é registrado de forma especialmente beligerante. Enquanto outros retratos recentes sobre autismo parecem não ter o conhecimento e o cuidado que esses tipos de histórias recomendam, Meu Filho, Nosso Mundo é contado com as melhores intenções; é um retrato honesto, cuja intenção parece mais de orientar do que de letrar o público sobre o que esse tipo de situação exige. No fim, fica a mensagem de que não há fórmula mágica para o autismo, para além da empatia.

Nota do Crítico
Bom