A Minha Versão do Amor (2010) adapta para os cinemas o romance Barney's Version (1997), do canadense Mordechai Richler (1931-2001). Com direção de Richard J. Lewis, o filme abrange 30 anos da vida de um sujeito chamado Barney Panofsky, empresário judeu do entretenimento televisivo no Canadá francófono. Seu negócio é produzir péssimas novelas - mas o dramalhão das telinhas não passa nem perto dos problemas que ele enfrenta em sua vida real.
Panofsky é o mais novo personagem criado na melhor tradição do humor judaico, o homem de meia-idade, rancoroso, irônico, sempre mordaz e cheio de manias que, sabe-se lá o motivo, desperta paixões em belas e interessantes mulheres. Só com muita suspensão de descrença mesmo para acreditar que tipos como Woody Allen ou Larry David possam representar inadvertidos conquistadores irresistíveis.
Paul Giamatti, que interpreta Panofsky, não é exatamente procurado para exercer sua versatilidade como ator. Suas interpretações mais memoráveis limitam-se normalmente ao mesmo tipo de papel que ele vive aqui. De qualquer maneira, isso é algo que ele faz tão bem e com tanta entrega que fica impossível não desejar mais e mais filmes assim de Giamatti. Ninguém vive esses personagens como ele, que aperfeiçoa a cada trabalho sua cara de descrença e nojo perante a vida em sociedade.
A Minha Versão do Amor, porém, deixa o terreno conhecido do humor negro judaico e seus romances verborrágicos para aventurar-se em estruturas de drama familiar mais convencional e até esbarra no suspense policial. Há um pouco de tudo na trama que salta entre as décadas desse perturbado sujeito.
O resultado é desequilibrado. Ainda que as atuações sejam excepcionais, essa oscilação de essência e intenções prejudica o conjunto. Mas para cada cena desnecessária (a acusação de assassinato é mesmo relevante? a redenção do velho chato? a doença?) há diálogos e interações maravilhosas. Todas as três ex-esposas são perfeitas (Rachelle Lefevre, Minnie Driver e Rosamund Pike), as cenas em Roma, com o artista vivido por Scott Speedman, são cheias de otimismo nostálgico e todas as vezes em que Dustin Hoffman divide a cena com Giamatti espera-se que elas durem o filme inteiro.
Ainda que a experiência seja enfraquecida pelos saltos temporais e a fragmentada mudança de ânimo, o elenco faz valer cada cena, tornando Barney Panofsky outro memorável bastião autodepreciativo das neuroses semitas.
Minha Versão do Amor
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