As tendências cristãs de Cormac McCarthy em A Estrada eram papo de coroinha perto da verdadeira missão jesuíta que é Mistério da Rua 7 (The Vanishing on 7th Street), a prova de que os filmes apocalípticos hollywoodianos, hoje saturados, ainda têm alguma pregação no estoque contra o pessimismo generalizado do novo século.
misterio da rua 7
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Em tempos negros assim, o obscurantismo cresce, e a premissa mística do filme do diretor Brad Anderson (O Operário) se aproveita disso. A trama começa dentro de um cinema de Detroit, onde o projecionista Paul (John Leguizamo) exibe a comédia mais recente de Adam Sandler, enquanto folheia um livro sobre demônios antigos. Apagam-se as luzes de repente, e todas as pessoas ali, com exceção de Paul, que estava com uma lanterna à mão, desaparecem misteriosamente.
O mesmo acontece com os outros três protagonistas, um repórter de TV vivido por Hayden Christensen, uma suposta enfermeira (Thandie Newton) e o quase órfão James (Jacob Latimore), que sobrevivem nos refúgios de focos de luz, enquanto assistem ao sumiço das pessoas ao redor. Aos poucos, Detroit vai ficando mais às sombras, as baterias começam a acabar, e cada um deles será testado de um modo diferente.
Mencionar A Estrada é muito desleal com McCarthy, e talvez seja injusto também, com M. Night Shyamalan, dizer que Mistério da Rua 7 é uma versão tosca de Fim dos Tempos, com a brisa assassina invisível substituída por vultos que parecem criados com os efeitos especiais de Ghost. O visual é banal, a trilha sonora, previsível, e o arranjo de personagens, manjado (com Christensen fazendo o cético e Thandie a desesperada a cada teoria de Leguizamo, o "articulador de subtexto" criado para tornar a interpretação religiosa mais óbvia).
A lição da história é a única coisa que importa a Anderson, que caminha até ela aos tropeços, passando pelo humor involuntário (a velha que some e deixa a dentadura) e pela franca pieguice de seu final pretensamente universalista. Mistério da Rua 7 consegue até fazer Adam Sandler parecer uma pessoa melhor, porque, convenhamos, é muito pedante sugerir que o mundo vai acabar porque o comediante continua levando multidões ao cinema, como faz o início metalinguístico do filme.
Não tem problema se Adam Sandler for recusado no céu. Depois deste filme ele terá sempre um canto no meu coração.
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