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Crítica

Remake de Não Fale o Mal aposta no literal para não ser uma mera cópia

Versão protagonizada por James McAvoy cai na armadilha da autoexplicação

10.09.2024, às 17H47.

O trunfo de Não Fale o Mal, filme dinamarquês que foi destaque em Sundance em 2022, é a sua capacidade de chocar pelo não dito. O thriller psicológico de Christian Tafdrup, sobre uma família dinamarquesa que faz amizade com um clã holandês durante as férias e que acaba enfrentando perigos mortais durante uma visita de fim de semana, se apoia no subtexto para criar uma crescente tensão entre os casais, até culminar em um clímax assustador.

Se as pistas e os gatilhos de uma dinâmica anormal surgiam nas entrelinhas, o remake americano idealizado por James Watkins tenta se distanciar do original ao apostar no literal. A premissa é praticamente a mesma: o casal Ben (Scoot McNairy) e Louise (Mackenzie Davis) decide passar férias em um hotel na Itália com sua filha Agnes (Alix West Lefler) e acabam conhecendo a família britânica formada por Paddy (James McAvoy), Ciara (Aisling Francioni) e o garoto Ant (Dan Hough). A aproximação entre eles parece acontecer de forma natural, até que Paddy convida a família de Ben para passar um final de semana em sua casa no interior da Inglaterra.

No remake hollywoodiano, apesar de uma performance assustadora de James McAvoy, o subtexto que fez do original uma narrativa particular ganha os contornos sangrentos de um tradicional thriller hollywoodiano, cuja segunda metade é exatamente o tipo de material previsível que Tafdrup tentou evitar em seu Não Fale o Mal.

Embora o primeiro ato do filme de 2022 possa parecer lento, o roteiro de Tafdrup toma o tempo necessário para criar o cenário aterrorizante de seu clímax. O longa dinamarquês nunca se preocupou em dar explicações sobre motivos ou origens do mal; a tensão, alojada nos comentários aleatórios do vilão (Fedja van Huêt) ou nas atitudes invasivas de sua mulher (Karina Smulders). No remake, o Paddy de McAvoy assume uma persona mais caricata e excêntrica - o que por si só já seria uma bandeira vermelha para qualquer pessoa em sã consciência.

Até mesmo a relação decadente de Ben e Louise ganha contornos dramáticos mais palpáveis no remake. Watkins cai na armadilha de autoexplicar cada complicação das dinâmicas propostas entre os personagens, algo que nunca foi um problema na versão original. Tal escolha faz com que a aproximação entre Ben e Paddy perca força, enquanto no filme de Tafdrup havia uma tensão quase sexual entre os dois homens, o que reforçava a ligação entre eles e dificultava o afastamento mesmo perante os alertas.

Embora a primeira metade do remake seja idêntica à versão dinamarquesa, Watkins se distancia do material original ao optar por fazer de seu clímax uma recompensa mais próxima do slasher movie. McAvoy, no maior estilo Leatherface, coloca o seu talento à prova para tentar criar o mínimo de tensão nos acontecimentos finais, mas a essa altura Não Fale o Mal já entregou respostas demais para que haja qualquer dúvida sobre o destino de seus personagens. O que resta é a fantasia do sadismo (da qual a própria noção de refilmar histórias já contadas de certa forma faz parte).

Nota do Crítico
Regular