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Crítica

No Coração do Mar | Crítica

Ron Howard conta uma boa história de pescador

02.12.2015, às 19H00.

Um ansioso Herman Melville chega na pousada comandada pelos Nickerson em Nantucket. Escritor de certo sucesso comercial, ele busca inspiração para o romance que colocará o seu nome entre os grandes da literatura norte-americana. Ron Howard começa assim No Coração do Mar para contar a história de origem de Moby Dick.

Embora Melville tenha usado como base o naufrágio do Essex, destruído pela fúria de uma baleia cachalote, seu livro é fruto também de outros “contos do mar” e da própria experiência em um navio baleeiro. No filme, porém, é no relato do velho Thomas Nickerson (Brendan Gleeson) que o escritor (interpretado por Ben Whishaw) encontra a linha narrativa para o seu fascínio pelos grandes monstros do oceano.

É a história de dois homens”, começa o depoimento de Nickerson, um jovem marinheiro de primeira viagem (interpretado com competência pelo futuro Homem-Aranha Tom Holland) quando o Essex zarpou em agosto de 1819 para encher barris com precioso óleo de baleia, combustível para iluminação de casas e ruas. A frase assinala as dicotomias que acompanharão o longa, começando pela oposição entre o nobre Capitão George Pollard (Benjamin Walker) e o ambicioso primeiro imediato Owen Chase (Chris Hemsworth).

Longe da obsessão do Capitão Ahab por Moby Dick, o roteirista Charles Leavitt constrói uma história de contrastes, tanto no caso do Essex - tradição/mérito, riqueza/pobreza, homem/natureza -, quanto na interação entre Melville e Nickerson. O escritor luta com o próprio talento, aspirando chegar ao nível do colega Nathaniel Hawthorne, enquanto o ex-marinheiro enfrenta a memória da tragédia, com vergonha da própria sobrevivência. Na conversa dos dois o filme ganha alma, principalmente pela força da atuação de Gleeson.

Já o conflito entre Pollard e Chase parece protocolar, assim como a conclusão, após o ataque da grande baleia, de que o homem deve respeitar a natureza, não tentar dominá-la. A discussão se torna artificial, assim como o visual do filme. Rodado quase todo em estúdio, Howard abusa da computação gráfica e parece ter tanto medo do grande monstro branco quanto os marinheiros naufragados por ele. Há boas cenas, contudo, principalmente nos momentos de perseguição. Já trechos como a entrada de Nickerson em uma baleia ou a degradação física dos náufragos poderiam ser memoráveis, mas temem demais se deixar levar pelo naturalismo e ofender alguém com o lado grotesco da realidade.

No Coração do Mar é apenas uma boa história de pescador. Carismático, Hemsworth faz de seu personagem um herói digno da torcida do público, enquanto Gleeson dá credibilidade à narrativa. Não deixa de ser a versão romanceada do caso real que deu origem a uma das grandes aventuras da ficção, mas Howard consegue criar momentos emocionantes, capazes de entreter sem levar ninguém para o fundo do oceano.

Nota do Crítico
Bom