Desde o lançamento do primeiro trailer de Noite Infeliz, já era claro que o filme de Tommy Wirkola (Onde Está Segunda?) misturaria elementos de diferentes títulos como John Wick – De Volta ao Jogo e Esqueceram de Mim na tentativa de atrair o público. Por mais que essa primeira prévia tenha causado em alguns o medo de que o longa em si fosse só mais um lançamento natalino genérico, o resultado final é, felizmente, bem mais inspirado e divertido do que sua campanha de divulgação deu a entender. Fazendo bom uso de clichês de diferentes gêneros, o filme estrelado por David Harbour é um presente de Natal caótico e violento que deve agradar até quem não é fã do feriado.
De certa forma, quase nada do que é trazido por Noite Infeliz é inédito. O Papai Noel de Harbour, por exemplo, é uma versão mágica de John McClane e o arco que o leva em pouco menos de duas horas de velho rabugento a Bom Velhinho não é lá muito diferente do visto em O Grinch. A forma como o roteiro de Pat Casey e Josh Miller (ambos de Sonic: O Filme) une seus lugares-comuns, no entanto, é inspirada e dá à comédia de ação um frescor que compensa sua falta de ineditismo.
Cientes de que o filme pegaria emprestado tropos de títulos considerados clássicos, os roteiristas buscaram, pelo menos, uma abordagem diferente para sua versão do Papai Noel. Unindo as origens cristãs de São Nicolau, um bispo grego que viveu no século IV, às influências pagãs que moldaram o feriado ao longo dos séculos, o Bom Velhinho de Noite Infeliz é um ex-guerreiro viking que, a contragosto e sem explicação, acaba incumbido da missão de entregar presentes às crianças do mundo inteiro. A mistura de cinismo e crença nesse retrato do personagem prende o espectador em uma montanha-russa de choques e risadas.
Com a ajuda da 87eleven, empresa de David Leitch e Chad Stahelski responsável pelas coreografias de ação de Aves de Rapina, John Wick e outros blockbusters, Noite Infeliz encanta com suas mortes inventivas e sangrentas. Bem ensaiadas, as lutas dispensam cortes rápidos à la MCU, permitindo que o espectador sinta cada soco, corte e marretada desferidos ao longo da produção. Inventivos, os embates usam enfeites natalinos de todas as formas e tamanhos, o que torna cada morte divertidamente única.
Além da ação desenfreada, Noite Infeliz também conta com atuações inspiradas de seu elenco principal. Embora Harbour faça do Papai Noel uma espécie de extensão de seu papel em Stranger Things, os atores que o cercam elevam o filme com interpretações caricatas, mas que não destoam do restante da produção. John Leguizamo e Beverly D'Angelo, em especial, se divertem ao viver dois personagens tão divertidos quanto odiosos, e elevam todas as cenas em que aparecem.
Contrariando as primeiras impressões criadas por sua campanha de divulgação, Noite Infeliz presenteia seu público com uma sessão pipoca igualmente familiar e inventiva. Encantador em sua violência, o longa é diversão garantida para o espectador, goste ele ou não de produções natalinas.