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Crítica

O Apocalipse | Crítica

Nicolas Cage em modo autoflagelo

22.10.2014, às 17H00.
Atualizada em 10.01.2015, ÀS 18H22

O Apocalipse (Left Behind, 2014) é provavelmente o pior filme que Nicolas Cage já fez, e embora isso possa parecer um prospecto muito encorajador para os adeptos do quanto-pior-melhor, faz-se urgente avisar que este longa-metragem não tem vocação sequer para o desastre.

Cage vive um piloto de avião que é pego em pleno voo pelo arrebatamento - fenômeno previsto na Bíblia em que os fiéis escolhidos para entrar no Paraíso são tirados da Terra à véspera do Apocalipse. Como o piloto é adúltero, ele acaba deixado para trás com o resto dos pecadores (incluindo um passageiro muçulmano, sabe como é...).

A exemplo da maioria dos filmes de baixo orçamento produzidos para o mercado cristão dos EUA, como aqueles protagonizados pelo ex-astro mirim Kirk Cameron (incluindo a história de arrebatamento Deixados para Trás, em 2000), O Apocalipse usa o cinema de gênero como veículo de pregação. Boa parte dos personagens é demarcada por seus vícios (o jogador, a drogada, o falso crente) e o arco dramático dos protagonistas se limita ao arrependimento, esse elemento tão caro à vigília católica.

Todo filme-catástrofe envolve provações morais, mas em O Apocalipse parece que a penitência é a única coisa que importa. Então o espectador vai ter que lidar com muito discurso dogmático - sem contar todas as cenas sem sentido e mal dirigidas - até o esperado desfecho do voo, clímax obrigatório de todo filme de avião desde o clássico Aeroporto (1970).

E aí até dá para rir com a solução absurda que o filme encontra para seus não-arrebatados, entre explosões e apps de navegação. A cena em que Cage "descobre" o arrebatamento também é potencialmente cômica. Nada muito apoteótico, mas aí até que vale ver, nem que seja a título de autoflagelo.

O Apocalipse | Cinemas e horários