Quando Bridget Jones: No Limite da Razão (2004), a sequência de O Diário de Bridget Jones (2001), chegou aos cinemas, o mundo era outro. O Facebook dava seus primeiros passos, assim como o Gmail, entradas para disquetes ainda integravam o design dos computadores, os celulares “abriam” e wifi ainda parecia uma palavra mágica, não uma revolução tecnológica.
Doze anos depois, sem muito alarde, chega O Bebê de Bridget Jones (2016), cuja grande importância narrativa está nessa avaliação do efeito transformador do tempo. Longe das telas desde 2010, Renée Zellweger retorna ao papel que tornou seu nome conhecido mundialmente para mostrar como envelhece a Geração X, que nasceu analógica e morrerá digital.
A trama é óbvia, com Bridget mais uma vez dividida entre dois homens. A novidade é que, com a recusa de Hugh Grant em participar da continuação (em função do seu descontentamento com o roteiro), surge Jack (Patrick Dempsey), o americano que disputará com Mark Darcy (Colin Firth) o coração da loira e a paternidade do seu filho. Porém, mesmo com um desfecho previsível, fiel às regras das comédias românticas, o roteiro escrito por Dan Mazer, Emma Thompson e Helen Fielding (a criadora dos personagens) deixa espaço para um pouco de autenticidade.
A escolha de envelhecer sua heroína, ao invés de modernizá-la, torna O Bebê de Bridget Jones fiel a sua proposta original, nascida do contraste entre o romance clássico e os novos comportamentos sociais. Na casa dos 40 anos, longe do auge da sua existência, Bridget precisa lidar com o fato de que sua vida continua mal resolvida. O tempo passa, jovens de barbas irônicas assumem cargos importantes, e ela ainda não encontrou o caminho para a felicidade. O conflito, contudo, não está mais em ser ou não solteira. O humor está na atualização, possível para a mente, mas nem sempre para o corpo. Da relação entre o passado e uma nova realidade - mais rápida, politizada e livre.
É uma moldura que abraça a tão comentada aparência de Zellweger, que tem falado abertamente sobre como foi afetada pela pressão para se manter jovem. Longe do escrutínio da imprensa, a atriz se mostra feliz no papel, celebrando uma velha amiga, que mudou, mas não perdeu a essência. O retorno do elenco de apoio da franquia, que inclui os sempre notáveis Jim Broadbent e Gemma Jones, e a adição de novos rostos, como Sarah Solemani (Miranda) e Emma Thompson (Dra. Rawlings) dão ao um filme uma sensação confortável, rompida apenas pelas entradas em cena de Dempsey, cujo manual de atuação se perdeu no set de Grey's Anatomy.
O Bebê de Bridget Jones é um filme que conversa com um público específico, simpático à jornada da sua protagonista, além de exigir certa tolerância a “defeitos especiais” e a uma boa dose de sentimentalismo. Vale o ingresso dos fãs e de qualquer um que esteja começando a sentir o peso da idade nas costas.