Política no cinema é sempre um tema que chama a atenção. Seja em filmes que falam sobre corrupção, abuso de autoridade, problemas internos e externos de um país ou até mesmo em cinebiografias de presidentes e outros líderes. A comédia, por sua vez, pode ser uma válvula de escape para falar sobre o assunto de uma maneira que deixe a história leve, mas ao mesmo tempo profunda. Foi desta forma que O Candidato Honesto, nova parceria entre o ator Leandro Hassum, o diretor Roberto Santucci e o roteirista Paulo Cursino, responsáveis pela franquia de sucesso Até que a Sorte nos Separe, resolveu entrar neste mundo em pleno ano eleitoral.
Na trama, Hassum vive José Ernesto, um candidato à presidência da República que se vê no segundo das eleições e com larga vantagem sobre o seu opositor. Sua popularidade é imensa, mas o deputado é tudo o que o povo não gostaria que seu representante no poder fosse: corrupto e mentiroso. Tudo parecia perfeito quando, na reta final de sua campanha, Ernesto recebe um comunicado de que sua avó está à beira da morte e gostaria de vê-lo uma última vez. O que ele não esperava é que, como último ato em vida, ela lhe joga uma praga, fazendo-o prometer que nunca mais mentiria, seja dentro de casa ou na vida política.
O longa é livremente baseado em O Mentiroso (Liar Liar, 1997), protagonizado por Jim Carrey, em que um advogado que só sabe contar mentiras passa a falar apenas a verdade após um pedido de aniversário de seu filho. O que vemos aqui é a atuação mais madura de Hassum nos cinemas. Mesmo sem perder a pose de brincalhão, com suas piadas e trejeitos forçados, o ator faz uma boa homenagem a Carrey, realçando durante a história o lado mais humano do personagem. Acostumado com um mundo de lavagem de dinheiro, helicópteros e secretárias sensuais, o deputado se vê como um peixe fora d'água, sem conseguir ambientar-se novamente ao lado de seus colegas no Palácio.
Os personagens secundários também são bem trabalhados. Flávia Garrafa faz a esposa de José Ernesto, uma perua acostumada com a vida pública e esbanja sua riqueza, sem se preocupar com o fato de que quase todo o seu dinheiro vem da renda pública. O assessor do candidato à presidência, vivido por Victor Leal, é quase um publicitário tentando vender um produto para a mídia, mostrando como funciona realmente o marketing político durante uma eleição. Referências dentro do cinema também não faltam, como o discurso de Hassum durante o debate em rede nacional, inspirado nas falas de Charlie Chaplin em O Grande Ditador (The Great Dictator, 1940), e todo o trabalho feito durante a sua campanha, uma alusão à O Candidato (The Candidate, 1972). A imprensa partidária, que muda de lado conforme seus interesses e alianças, também ganha destaque.
No final, o filme nos apresenta uma grande discussão: a culpa de ser corrupto é apenas do indivíduo ou do sistema como um todo? A tentativa de Santucci de tratar um tema quente dentro de um longa de humor é bem-sucedida, apesar de alguns exageros característicos das comédias brasileiras. E serve como um leve toque para o espectador pensar muito bem antes de apertar o botão "confirmar" na hora de votar.