Texas, 1869, expansão ferroviária Velho Oeste adentro. Depois de sofrer uma emboscada quando acompanhava um grupo de patrulheiros, o oficial de justiça John Reid (Armie Hammer) é largado à morte. O índio Tonto (Johnny Depp) se prepara para enterrá-lo, quando recebe um sinal: Reid vive e está destinado a ser um justiceiro mascarado.
cavaleiro solitário
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Muito depois desse início, quando Reid finalmente para de resmungar e deixa a função de alívio cômico de O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger), para então cavalgar triunfantemente ao som do prelúdio de Guilherme Tell de Rossini, dá uma pena que Gore Verbinski tenha errado a mão. Havia ali potencial para uma aventura decente de matinê, mas o problema é que o diretor não sabe direito que filme quer fazer.
As referências à história do faroeste, por exemplo, vão do óbvio clássico (o vigilante mascarado com seu cavalo branco foi criado nos anos 1930, época de ouro do gênero), passando pelo período revisionista (o ponto de vista do índio em busca de justiça) até o faroeste-delírio (o close-up nos escorpiões à moda Sam Peckinpah), sem esquecer a flautinha que imediatamente remete aos spaghetti westerns. A obsessão com que Verbinski filma as Montanhas Rochosas não deixa dúvidas: é para o clube dos mitos que ele quer tanto entrar, nem que para isso tenha que atirar em todas as direções.
Mas as Rochosas nunca deixam de ser cartão postal em O Cavaleiro Solitário para virar cenário de fato, da mesma forma que tudo é disposto em cena mais como diorama do que como espaço de ação de verdade, como o bêbado na delegacia que dorme teatralmente segurando uma garrafa inclinada - meio museu de cera, meio parque temático. O irônico é que, no papel, a intenção aparente era desfazer o teatral para chegar ao mito (o filme é narrado em flashbacks pelo índio idoso, em uma feira de variedades em 1933) mas Verbinski não consegue resolver na imagem esse processo de resgate.
Talvez o principal empecilho seja menos a necessidade de fazer um filme-família da Disney (O Cavaleiro Solitário é mais violento do que Guerra Mundial Z, aliás) do que a obrigação de seguir a estrutura de Piratas do Caribe, o sucesso que permitiu que Verbinski e Depp gastassem US$ 250 milhões num faroeste de duas horas e meia. Para um filme que almeja tocar os clássicos, O Cavaleiro Solitário é terrivelmente derivativo de uma fórmula que, mesmo recente, já soa esgarçada - todos os personagens, desde os capangas imundos ao militar que apoia o vilão, encontram um correlato na saga de Jack Sparrow, e toda a pretensão épica resulta aqui tão inchada quanto os roteiros de Ted Elliott e Terry Rossio na franquia bucaneira.
Limar uma hora e uns seis personagens deixaria O Cavaleiro Solitário melhor? Provavelmente. Ainda assim, a indecisão sobre quem é o protagonista de fato (Hammer não pode se dar ao luxo de ser eclipsado por Depp como foi Orlando Bloom) e a mania de emendar toda cena de impacto com uma piadinha - o drama não pega e o humor não funciona - parecem sabotar o filme na sua própria espinha dorsal.
O que fica, já durante os créditos finais, é a imagem das montanhas: uma caminhada que soa determinada, mas num passo curto que pode durar para sempre. E Gore Verbinski agora se parece mais com o seu camaleão pistoleiro de Rango, trocando de cor na eterna torcida de que, uma hora, ele consiga se misturar ao Velho Oeste.
O Cavaleiro Solitário | Cinemas e horários