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O Crocodilo | Crítica

O Crocodilo

23.11.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H20

O Crocodilo
Il Caimano
Itália, 2006
Drama, Comédia - 112 min

Direção e roteiro: Nanni Moretti

Elenco: Silvio Orlando, Margherita Buy, Jasmine Trinca, Michele Placido, Giuliano Montaldo, Antonio Luigi Grimaldi, Nanni Moretti, Paolo Sorrentino, Elio De Capitani, Tatti Sanguinetti, Jerzy Stuhr, Toni Bertorelli, Matteo Garrone, Lorenzo Alessandri, Giancarlo Basili, Silvio Berlusconi

Há quem se arrepie ao ouvir o nome de Nanni Moretti, por conta das chorosas lembranças do dramático O quarto do filho (2001). Mas foi no gênero das comédias que o cineasta italiano consagrou-se e é para esse cenário conhecido que retorna em seu novo longa, O crocodilo (Il Caimano). A caixa de lenços de papel pode ficar em casa, portanto.

O filme é uma inteligente sátira à era do bilionário milanês Silvio Berlusconi, o crocodilo do título, à frente do ministério italiano. Dono de um império de mídia, ele foi primeiro-ministro por três mandatos, quando finalmente foi derrotado - por ínfima margem - pelo economista Romano Prodi, em 2006. Sua longa e polêmica passagem pelo governo foi pontuada por escândalos de corrupção e denúncias de ligações com a Máfia, chegando a virar piada na comunidade européia e no mundo.

A solução encontrada por Moretti para tratar do tema é extremamente criativa. Na tradição dos filmes dentro de filmes, ele coloca Teresa (Jasmine Trinca), uma jovem diretora cansada do momento que vive seu país, em busca de um produtor para seu longa-metragem que denunciará o governo Berlusconi. Ela chega ao personagem principal da trama, o produtor fracassado de filmes B Bruno Bonomo (Silvio Orlando, histérico), que viveu uma era de prosperidade no passado, mas perdeu quase tudo com um filme de ação estrelado pela esposa Paola (Margherita Buy).

Bonomo está perdido. Seu casamento vai de mal a pior, sua empresa dedica-se a terríveis informerciais e as dívidas se acumulam. Num lance de desespero, sem ter lido o texto, ao conversar com um executivo da rede de TV RAI ele comenta sobre o roteiro da estreante. Inadvertidamente, então, começa a produção do filme de esquerda. O problema é que o produtor é eleitor de Berlusconi e um ferrenho detrator do consagrado cinema político italiano...

Dessa forma, Moretti arma o palco para que acompanhemos a vida de Bruno, as dificuldades da produção e, claro, as falcatruas do Primeiro-Ministro. O elenco está impecável, os personagens são muito bem desenvolvidos e as situações cômicas, engraçadíssimas. O problema é que o filme derrapa em seu quarto final, quando a política e o drama sobrepõem-se à comédia, encerrando o longa com uma nota demasiadamente pessimista, triste e sombria.

Resulta assim uma aura de indecisão e fica a impressão que o diretor deixou-se levar pelo ódio ao político e preferiu reforçar o alerta, o sinal de que o crocodilo mergulhou, mas pode emergir para mais algumas bocadas no futuro. Uma postura política louvável, mas artisticamente dispensável, já que tudo isso estava claríssimo nas entrelinhas do roteiro.

Nota do Crítico
Bom