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Crítica

O Doador de Memórias | Crítica

Falta coragem à adaptação aos cinemas do livro de Lois Lowry

11.09.2014, às 15H48.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 15H25

O Doador de Memórias se veste de fantasia adolescente para discursar sobre violência, repressão e segregação. Esses temas são abordados em outros livros do mesmo gênero, mas dificilmente há uma ligação direta com fatos da história da humanidade. Ao usar cenas de acontecimentos conhecidos, o filme de Philip Noyce, que adapta o livro de Lois Lowry, quase se torna uma ficção científica; faltou coragem, porém, para discutir as consequências dos atos que podem tornar o humano um ser desprezível.

Em um mundo totalitarista, feito por pessoas que nascem com um propósito (soldado, enfermeiro, professor, etc) e onde ninguém lembra do tempo anterior à essa situação, o Receptor (Jeff Bridges) é o único que sabe o que ocorreu. De tempos em tempos, ele é encarregado de passar o fardo para um novo sujeito - no caso, o garoto Jonas, interpretado por Brenton Thwaites.

Jonas é os olhos do espectador, literalmente. Noyce filma o mundo de O Doador de Memórias em preto e branco até que as primeiras lembranças do passado remoto sejam mostradas. Nele se concentra também todo o vazio ideológico da trama, que apresenta inúmeras questões e responde apenas a mais simplória delas: "se o povo puder escolher, ele escolherá errado".

Nos breves diálogos entre Bridges e Meryl Streep, a vilã do filme, nota-se quão rasas são as pretensões do roteiro. O problema do mundo é apenas o povo e suas escolhas. Momentos depois, quando são mostradas as memórias e discussões entre o Receptor e Jonas, fica claro que há mais. E é aí que o desperdício também se evidencia, pois sequer o confronto entre as visões de ambos é aproveitado. Bridges se limita a reproduzir suas caretas já conhecidas em blockbusters ao invés de incitar o intelecto do protagonista - e por consequência, do espectador.

Além disso, há o romance e a reviravolta obrigatórios no decorrer do longa, mais uma vez deixando claro porque o filme se furta de ir além das expectativas criadas pelos nomes no cartaz. O Doador de Memórias é feito para se encaixar na mediocridade da fantasia juvenil atual.

Nota do Crítico
Bom