O Espelho investe em atmosfera e deixa os sustos em segundo plano. Os dois protagonistas do novo filme de Mike Flanagan têm tempo suficiente para se tornarem íntimos do espectador. Ao lado disso, a trama se desenvolve com calma e didatismo pouco exagerado, construindo uma sensação de tensão sempre bem-vinda. No momento de aproveitar essa boa construção, porém, o filme se perde. E há poucas coisas piores que um suspense sem desfecho de impacto.
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O roteiro mostra a história dos irmãos Tim (Brenton Thwaites) e Kaylie (Karen Gillan), ambos traumatizados pela inexplicada morte da mãe. Anos depois do caso, o garoto deixa um hospital psiquiátrico e reecontra a irmã, agora uma moça bem de vida, mas ainda marcada pelo passado. Os dois se reúnem para provar que o responsável pela morte da mãe foi um antigo espelho comprado pelo pai deles, ainda na casa em que moravam na infância.
A narrativa é dividida em duas frentes: passado e presente. No começo, o artifício, comum em longas do gênero, é usado de forma consciente e dentro do contexto apresentado - afinal ambas histórias se passam no mesmo local, apenas com cortes temporais diferentes. A estratégia de Flanagan consegue situar o espectador, ao passo que introduz todos os mistérios que precisam ser desvendados. Tudo é armado com eficiência, sem pieguices ou uso desnecessário da trilha sonora em cenas mais tensas, por exemplo - algo corriqueiro em suspenses de segunda linha.
O tropeço começa no exagerado uso de flashbacks para explicar as situações do presente. Além quebrar o ritmo, essas viagens no tempo se tornam confusas ao invés de misteriosas. O Espelho, por diversas vezes, se acha mais inteligente do que é de fato. E ao tentar ludibriar quem assiste, Flanagan só provoca um atraso de desenvolvimento da própria história, pois inúmeras questões são repetidas a exaustão e têm desfechos previsíveis.
Há uma clara habilidade do diretor em criar tensão sem bengalas comuns do gênero, pois mesmo com atores razoáveis (Thwaites é o único abaixo da média) há uma identificação quase que imediata com a família protagonista. Faltou tato para concluir uma história que escapa de clichês, mas termina deitada sobre os mais simplórios deles.