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Crítica

O Estado das Coisas | Crítica

Mike White cria retrato fiel da natureza cíclica da insatisfação

06.11.2017, às 14H30.
Atualizada em 08.11.2017, ÀS 14H48

Mike White é um especialista das crises humanas. Seja em Escola de Rock, Nacho Libre, Por um Sentido na Vida ou em trabalhos para TV como Enlightened, o diretor, roteirista e ator parte de conflitos existenciais para colocar seus personagens em movimento. Em O Estado das Coisas, porém, White faz dos questionamentos metafísicos um estudo de personagem, mas não busca respostas para uma jornada transformadora.

A ideia é entender as expectativas pessoais e as projeções que impedem a felicidade, mesmo quando tudo parece encaminhado. Brad Sloan (Ben Stiller) trabalha em uma organização sem fins lucrativos, tem uma esposa adorável (Jenna Fischer) e um filho talentoso (Austin Abrams), que está prestes a entrar em uma das melhores universidades dos EUA. Ele é um homem bom, sem culpas para carregar, mas não consegue dormir. Ele pensa nos colegas da faculdade, todos ricos e bem sucedidos (interpretados por Michael Sheen, Jemaine Clement, Luke Wilson e pelo diretor/roteirista). Ele pensa no filho, que logo vai superá-lo. Aos seus olhos, é um fracasso. De quem é a culpa?

White usa a narração em off para escancarar todos os anseios do seu protagonista. É um recurso necessário, mas por vezes excessivo. Brad diz mais sobre si mesmo nos diálogos com outros do que nos longos raciocínios sobre a sua crise. É quando Stiller tem a chance de mostrar o seu melhor, usando a postura defensiva do personagem para revelar o que Brad não quer ver. No resto do tempo, o ator segura as cenas com um olhar questionador enquanto a sua “consciência” conta a história.

Brad, no entanto, não tem o controle da narrativa. A visão dele é sempre rebatida, seja pelo filho, pela esposa ou pelos próprios colegas que ele julga superiores. “Você sabe que isso são problemas de homem branco rico e heterossexual?”, questiona a jovem universitária para quem Brad acabara de explicar todo o seu drama na mesa de um bar. Ele queria demovê-la do idealismo, uma das causas do seu “fracasso”, e inspirar uma boa dose compaixão para si. Descobre apenas o tamanho do seu ego.

Brad Sloan não se torna uma pessoa melhor depois da sua crise de meia-idade. Ele encara algumas verdades, mas continua acordado, se revirando na cama. Esse é o maior mérito de O Estado das Coisas: não ser um filme sobre epifanias. White poderia facilmente enveredar para a autoajuda, levando Brad à iluminação, mas prefere criar um retrato da natureza cíclica do desgosto. A felicidade só chega para quem se permite ser feliz.

Nota do Crítico
Ótimo