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Para que você não entre nos cinemas e se desaponte logo de cara, é bom saber que O exorcismo de Emily Rose (The exorcismo of EmilyRose, 2005) não é um filme de terror. Pelo menos não destes que você está acostumado a ver por aí e também bastante diferente do ótimo e apavorante O exorcista (1973). Além das cenas de susto que fazem qualquer um pular da cadeira, o longa tem na sua trama um julgamento, o que deixa a história com uma cara diferente.
A mistura de gêneros pode soar estranha, mas funciona bem. Usando as figuras do promotor (Cambell Scott) e da advogada de defesa (Laura Linney), o filme mostra os dois pontos de vista do tal exorcismo pelo qual passou Emily Rose (Jennifer Carpenter). O caso está na justiça porque o padre Richard Moore (Tom Wilkinson) é acusado de homicídio, já que a jovem morreu após ele falhar na cerimônia de expulsão do demônio. Enquanto o promotor tenta mostrar que Emily Rose era uma menina doente, portadora de uma epilepsia psicótica, o religioso se esforça para contar a sua versão da história, a de que ela estava possuída.
Todo mostrado em flashbacks e sempre retratando a mesma cena de duas formas diferentes, o filme não está aqui para dizer ao público que manifestações além da nossa imaginação existem ou não. Ao mostrar os dois lados, o diretor e co-roteirista Scott Derrikson trabalha para que cada um escolha no que acreditar. É uma saída bastante inteligente para tentar fugir do lugar comum, mas que pode desagradar aos entusiastas dos filmes de terror, pois a maior parte dos seus 114 minutos acontece dentro do tribunal, deixando alguns rápidos momentos para mostrar Emily Rose se contorcendo, gritando, falando em vozes antigas e comendo insetos.
As atuações de Laura Linney e Tom Wilkinson são calmas e comedidas, sem este papo de gritos e correria. A tensão fica mais para os aspectos psicológicos, como a mudança de comportamento da advogada, que no início só pensa na sua carreira e termina o filme sem saber se continua tão agnóstica quanto gostava de dizer enquanto bebia seu martini.
Apesar da utilização de alguns clichês e de um ou outro furo, O exorcismo de Emily Rose se destaca por tentar dar um enfoque diferente nos repetitivos filmes de terror. Trabalha a seu favor também o alardeado fato de que o longa é inspirado nos acontecimentos reais passados pela alemã Anneliese Michel. E assim a discussão sobre a existência ou não de demônios ainda vai muito longe, principalmente em Hollywood, onde parece que o Coisa Ruim tem passe livre.