Cena de O Exorcismo (Reprodução)

Filmes

Crítica

O Exorcismo desperdiça ótima proposta com execução pouco inspirada

Russell Crowe não consegue ir nem na seriedade de O Exorcista, nem na galhofa de O Exorcista do Papa

19.09.2024, às 12H00.

Não, O Exorcismo não tem nada a ver com O Exorcista do Papa, aquele terror com sotaque italiano macarrônico também protagonizado por Russell Crowe. Aqui a história é sobre um ator que está tentando recuperar a carreira após cair no esquecimento devido a problemas com drogas, e acaba conseguindo um papel em um pseudo-remake do clássico O Exorcista. A jornada dele começa a tomar caminhos estranhos quando um demônio parece tomar seu corpo e dificultar uma já complicada carreira em declínio.

A proposta em si, que mergulha ainda em uma metalinguagem sobre os abusos e precariedade do trabalho nos bastidores do cinema, é muito interessante. O personagem de Crowe sofre com os próprios infortúnios, mas é o centro para uma série de acontecimentos que pouco têm a ver com o horror católico em si. John Joshua Miller, o diretor, constrói a história dentro de um apartamento sujo e escuro, que com o passar do tempo se transforma no casulo que Crowe usa para se transformar em uma criatura cada vez mais grotesca.

Há quem diga que, depois de fazer filmes-série-B, como esse e A Teia, por exemplo, o australiano que venceu o Oscar por Gladiador virou uma caricatura de que já foi. Pode até ser, mas é inegável a dedicação e talento que Crowe tem para personagens com trejeitos exagerados e mente perturbada. Aqui, mesmo com um desenvolvimento da história e texto fracos, ele consegue levar verossimilhança ao fracasso psicológico e físico que o personagem passa - e comparar isso com o herói inesperado que é em O Exorcista do Papa torna a transformação admirável.

Uma pena, porém, que O Exorcismo use os clichês do gênero sem executá-los de forma positiva, se entregando a sustos previsíveis e um desfecho que aos poucos esvazia o tema metalinguístico que a história propõe. É até difícil dizer que este é um filme de terror de fato - um suspense poderia se encaixar mais na definição, mas a questão é que em nenhum deles há elementos que Miller entrega com plenitude. No fim das contas, é só uma ideia interessante que acaba sendo engolida antes de realmente tomar forma.

Nota do Crítico
Regular