Logo depois de trabalhar com Jake Gyllenhaal em Os Suspeitos, o diretor canadense Denis Villeneuve (Politécnica, Incêndios) se reúne com o ator em O Homem Duplicado (Enemy), adaptação ao cinema do romance de 2002 de José Saramago. É uma oportunidade de colocar em perspectiva, depois do hype em torno de Os Suspeitos, a vocação de Villeneuve para a estetização.
o homem duplicado
O Homem Duplicado é o típico filme de festival que pretende tocar certos temas mas se considera inteligente demais para de fato abordá-los diretamente. Gyllenhaal faz um professor de história que descobre que tem um duplo, um ator de cinema. Até mesmo as cicatrizes dos dois são iguais, e as namoradas de ambos são loiras belas e esguias. O professor, porém, parece invejar o astro de cinema, como se pudesse viver outra vida - situação que gera o suspense que move o encontro dos dois.
O Homem Duplicado almeja gravidade, tenta tornar mais coletiva e trágica essa premissa, e ambienta a história de Saramago numa Toronto em que a arquitetura complementa a personalidade dos personagens (os apartamentos massificados de St. James Town tornam o professor mais ordinário e as curvas das torres de condomínio Marilyn Monroe em Mississauga deixam o estilo de vida do ator mais atraente - e ilusório). Em nenhum momento, porém, os planos estilizados de Villeneuve pensados para gerar desconforto, como quando cola a câmera no teto para simular claustrofobia, ganham vida por si só.
"A história se repete como farsa", dizia Marx, como lembra o professor de história na faculdade, dentro do filme. Villeneuve está ciente dessa condição, trabalha o drama do protagonista em função dessa perspectiva farsesca, mas parece não ver o humor que essa situação absurda pede. O resultado é um filme em que Jake Gyllenhaal visivelmente se esforça para criar algo com o diretor, mas nas suas pretensões O Homem Duplicado parece mais um projeto de vaidade do que um projeto de cinema.
O Homem Duplicado | Cinemas e horários