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Crítica

O Homem nas Trevas 2 troca tensão pelo absurdo

Sequência de 2016 passa longe da qualidade do primeiro e ganha pelo puro apelo da trama nonsense

30.07.2024, às 12H21.

Quando O Homem nas Trevas estreou, em 2016, o público foi conquistado por diversos elementos do terror de Fede Alvarez, liderados por um clima silencioso e uma construção de tensão memorável. A história de um homem cego que demonstra habilidades aterrorizantes para se livrar de três assaltantes foi tão marcante pela combinação de um roteiro contido com um twist imprevisível, que elevou a premissa da invasão para um terror de desdobramentos maiores. 

Não é nada surpreendente que o sucesso financeiro do filme - uma das maiores bilheterias da Sony daquele ano - tenha rendido uma sequência, que chega agora em 2021. A parte inesperada de O Homem nas Trevas 2 é sua negação do que deu certo no primeiro. Sim, o ótimo Homem Cego de Stephen Lang está de volta, e a sequência também tem seus twists, mas tudo isso é envolto em uma trama tão absurda que toda a eficiência do primeiro se perde em cenas que têm mais ação do que suspense. 

Aqui, o Homem Cego aparece vivendo com uma filha pequena, com quem tem uma relação superprotetora e misteriosa quanto ao seu passado. A jovem Phoenix (Madelyn Grace), que anseia passear na cidade mas vive isolada e educada em casa, é também treinada na arte da fuga e autodefesa, o que vem a calhar quando a casa é invadida por bandidos cuja intenção é desconhecida. Sem entender os invasores ou suas motivações, O Homem nas Trevas 2 já perde no quesito de envolvimento com o público. Enquanto simpatizamos com os personagens do primeiro, aqui vemos o nosso vilão original lutando contra inimigos estranhos, sem saber direito para quem torcer na confusão da situação. 

Buscando emular o clima do primeiro filme, O Homem nas Trevas 2 gasta um bom tempo em um jogo de gato e rato na casa do Homem Cego, mas não mostra a mesma habilidade em manter o suspense. Dando ênfase na violência e sanguinolência acima de criação de expectativa, O Homem nas Trevas 2 parece até esquecer de tirar proveito das habilidades únicas do protagonista, utilizando ele mais como um soldado inquebrável no estilo Michael Myers. O tropeço, aqui, não é exatamente a direção de Rodo Sayagues - mesmo que seja menos eficiente que a de Alvarez no primeiro -, mas um roteiro mais interessado em um ritmo acelerado. 

O twist de O Homem nas Trevas 2 também não chega aos pés do primeiro, apesar de ter seu charme. Não faria sentido revelar a trama do filme do meio para o fim aqui, então talvez baste dizer que outra reviravolta do filme - uma segunda, para ser precisa - beira o ridículo. Mas em um contexto de uma produção tão inferior ao seu antecessor, o  nonsense acaba por conquistar o espectador sem compromisso. Uma vez que você se entrega ao completo absurdo do que se passa, o carisma da pequena Phoenix e as habilidades de Lang são, sim, irresistíveis. 

A crítica que rodeia o filme desde o lançamento do trailer, de que o impiedoso vilão do primeiro filme agora serve como herói, também encontrará terreno fértil no produto final para seguir vivíssima, mais do que se imagina. Mas depois de duas horas de uma história mirabolante, esse parece ser o menor dos problemas de O Homem nas Trevas 2. Assim como tantas sequências do gênero, a continuação promete lançar a franquia para um futuro absurdo, em um cenário que vai contra as características do primeiro, mas pode ser bem-vindo para quem quiser largar a mão - ou ter uma experiência praticamente oposta.

Nota do Crítico
Regular