Se Todos os Homens do Presidente fosse um suspense daqueles que passam no Supercine, sobre famílias desfeitas e escândalos públicos, poderia sair algo na linha de O Mensageiro (Kill The Messenger), filme baseado em fatos estrelado por Jeremy Renner que trata de jornalismo do ponto de vista do drama pessoal.
o mensageiro
o mensageiro
O roteiro de Peter Landesman adapta a história do jornalista Gary Webb (Renner), que teve sua reputação manchada pela CIA depois de ter, em uma reportagem, em 1996, enquadrado a agência em um esquema da época do governo Reagan para armar rebeldes na Nicarágua e importar drogas para a Califórnia, com a justificativa de financiar o combate ao comunismo.
Já dá pra manjar o rumo sentimentalista que o diretor Michael Cuesta (Homeland) vai dar ao seu filme na cena em que Webb, no meio de uma apuração, visita o bairro de Los Angeles mais afetado pela indústria do crack. É a revolta contra o descaso do governo que move a exposição do filme, e o personagem vaga por cenários afetados pelo escândalo político mais com um olhar de denúncia do que de investigação.
Não há, como em Todos os Homens do Presidente, uma figura obscura pedindo para o repórter "seguir o dinheiro" para conseguir respostas. Em O Mensageiro, as pessoas no caminho de Gary Webb contam suas histórias sem cerimônia ("Você vai querer anotar essa", diz o chefão vivido por Andy Garcia) porque o filme trata a notícia como um fato consumado; os fatos são expostos com imagens e textos em tom de documentário.
Uma vez que a "verdade" precede a investigação no filme, em nome da denúncia e de um didatismo que tira de O Mensageiro seu potencial de suspense jornalistico, perde-se o prazer da descoberta. Uma cena ou outra puxam o longa para o lado dos thrillers (o momento tenso no estacionamento no meio da noite parece ser obrigatório nesse subgênero), mas no geral Cuesta abraça mais a tragédia do individuo e da família acossados pelo sistema.
Numa divisão de faculdade de jornalismo, O Mensageiro é o longa sempre exibido para primeiroanistas, expositivo do começo ao fim, aderente ao melodrama do jornalista herói, solitário e injustiçado, e que ensina, entre outras coisas, o que todo repórter investigativo deveria saber: grave suas entrevistas ao invés de anotar num bloquinho de papel.