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Crítica

O Mordomo da Casa Branca | Crítica

Lee Daniels confunde testemunho com protagonismo em filme de solenidade

21.10.2014, às 12H17.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Desde os primeiros trailers, O Mordomo da Casa Branca (The Butler) parece um esquete do Saturday Night Live que parodia telefilmes biográficos. Em duas horas de filme, tocadas com narração em off didática e marcadas por escolhas excêntricas de elenco, o diretor Lee Daniels (Preciosa) não faz muito para mudar essa primeira impressão.

o mordomo da casa branca

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A trama se baseia livremente na história de Eugene Allen, mordomo negro que serviu presidentes na Casa Branca de 1952 a 1986. Embora utilize como base uma reportagem publicada no jornal Washington Post em 2008, o filme muda o nome do mordomo e ficcionaliza passagens de sua vida. Allen não cresceu num campo de colheita de algodão no Sul nem teve um filho Black Panther, como o filme mostra, mas de fato ganhou uma gravata de Jacqueline Kennedy e foi convidado pelos Reagan a um jantar oficial na Casa Branca.

O essencial é o que o mordomo - Cecil Gaines no filme, vivido por Forest Whitaker - representa, enquanto testemunha negra in loco das principais decisões tomadas pelos presidentes dos EUA em relação aos direitos civis no país. Daniels faz o registro solene e dramático que se esperaria desse material, mostrando como o mordomo, nas palavras de Martin Luther King (Nelsan Ellis), subverte a imagem de "negro da casa" e se equipara ao branco em terreno inimigo.

O problema de O Mordomo da Casa Branca não é exatamente ser solene (os quartos de Gaines são iluminados como se fossem a própria manjedoura do Menino Jesus) ou dramático demais (Whitaker faz sua melhor imitação de Morgan Freeman na hora de narrar o que aflige o mordomo: "agora estou confuso", "agora estou perdido"...). O problema maior é confundir testemunho com protagonismo.

Porque temos aqui um caso típico de biografado onipotente e onipresente. Todos os personagens tecem comentários sobre a importância de Cecil Gaines, mesmo que provavelmente nunca o tenham visto na vida (como na cena com MLK), e os atos do mordomo são superdimensionados (ele abre o coração para dois presidentes e nas cenas seguintes vemos os presidentes discursando na TV a favor da causa negra, relação de causa e efeito bastante banalizada).

Antes de virar diretor, Lee Daniels era agente de atores, e talvez por isso ele tenha essa crença equivocada de que basta um personagem, e todo um filme se construirá automaticamente ao redor dele. Bem, não é o caso, e por isso O Mordomo da Casa Branca parece uma paródia de si mesmo, como se seu elenco de celebridades pudesse transmitir Verdade ao filme, pelo simples fato de serem celebridades.

Acompanhe as nossas críticas do Festival do Rio 2013

Nota do Crítico
Ruim