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Crítica

O Mundo Depois de Nós quer falar muito, mas acaba não dizendo nada

Thriller apocalíptico do criador de Mr. Robot parece um episódio ruim de Black Mirror

08.12.2023, às 18H00.
Atualizada em 13.01.2024, ÀS 17H35

Não é de agora que estamos nos habituando com a ideia de conviver com um permanente fim do mundo, mas essa realidade ainda traz consigo alguma perplexidade. Pelo menos é nisso que aposta o filme O Mundo Depois de Nós, que o diretor Sam Esmail (Mr. Robot) adapta do romance homônimo de Rumaan Alam lançado no fatídico ano de 2020. Como estranhos se comportam – e interagem – diante da novidade do fim do mundo?

No longa, acompanhamos a família de Amanda (Julia Roberts), uma executiva de publicidade, Clay (Ethan Hawke), um professor universitário, e seus dois filhos, Rose (Farrah Mackenzie), que é viciada em Friends, e o adolescente Archie (Charlie Evans). Eles estão se preparando para deixar a cidade e desfrutar de alguns dias de férias em uma casa de praia em Long Island, que, com paisagens paradisíacas e uma atmosfera tranquila, parece ser a escolha perfeita para escapar do caos da cidade. No entanto, rapidamente, esse cenário idílico começa a ser palco de incidentes estranhos, como um navio de cruzeiro que se aproxima da costa e colide com banhistas, a queda da conexão Wi-Fi em toda a região e a invasão de animais selvagens na propriedade.

Apesar de todos esses eventos estranhos – que trazem ao imaginário do filme essa sugestão de perplexidade que já falta à nossa realidade aqui do lado de fora – o que realmente perturba Amanda é receber dois estranhos na sua porta, certa madrugada: G.H. (Mahershala Ali) e sua filha Ruth (Myha'la) buscam abrigo após um apagão atingir a cidade de Nova York. Assim como outros filmes de desastre, como Twister e até mesmo Melancolia, O Mundo Depois de Nós explora a dinâmica de estranhamento que se estabelece quando personagens diferentes precisam conviver no mesmo espaço enquanto tentam compreender o que está acontecendo. A diferença aqui é a ênfase em comentários sobre o racismo envolvendo um pai negro e sua filha.

A tensão racial entre as duas famílias é um dos únicos temas devidamente explorados nas quase 2h30 de filme. De resto, a produção não parece ter uma direção clara sobre o que se propõe: é uma visão específica de como as pessoas enfrentam o fim do mundo que conhecemos ou uma crítica à dependência da tecnologia? Paranoia americana, teorias da conspiração, catástrofes da natureza e racismo se enfileiram nos temas do filme menos como um pensamento organizado e mais como sintomas de um desarranjo social que Esmail nota e traz para o filme a título de interrogação. Nada é muito aprofundado, enquanto a trilha sonora estridente, composta por Mac Quayle (American Horror Story), tenta dar conta de uma dramaticidade que o texto do filme não consegue suprir.

O Mundo Depois de Nós acaba parecendo mais com um episódio ruim de Black Mirror, sem aquele parágrafo final que arremata um textão ideológico. No entanto, se o algoritmo da Netflix tem mostrado predileção em filmes de fim de ano que oferecem uma visão distópica da sociedade e do mundo, como Bird Box e Não Olhe Para Cima, é muito provável – e para a sorte dos executivos da plataforma – que O Mundo Depois de Nós repercuta minimamente e siga o mesmo caminho de sucesso.

Nota do Crítico
Ruim