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Crítica

O Retrato de Dorian Gray | Crítica

Filme se apega ao lado místico do clássico para nos vender mais um suspense sobrenatural

24.03.2011, às 18H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H18

Diante do mau uso do personagem em A Liga Extraordinária, O Retrato de Dorian Gray (Dorian Gray, 2009) seria um bem-vindo retorno do jovem eterno ao cinema, mas o filme do diretor londrino Oliver Parker também não faz justiça ao único romance de Oscar Wilde (1854-1900).

dorian gray

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Frase atribuída a Wilde: todo autor, em seu primeiro romance, coloca-se como Cristo ou Fausto no lugar do personagem. A história de Dorian Gray - rapaz da alta sociedade inglesa no século 19 que tem seu retrato pintado por um artista e, encantado com a sua própria beleza na tela, pede em voz alta que nunca envelheça - tem as características de um pacto faustiano com o diabo. O teor religioso, porém, é marginal no livro. O Fausto de Goethe só serve a Wilde como um arquétipo.

O problema do filme de Parker é abraçar a interpretação faustiana, a mais imediatista, e colocar de canto as discussões em que Wilde estava de fato interessado, sobre estética versus moral e especialmente sobre alteridade, as nossas relações de troca com o outro e a relação do objeto artístico com o seu apreciador ("na realidade, a arte reflete o espectador, e não a vida", diz Wilde no prefácio do livro).

Como discutir a arte parece fora de moda nestes tempos obscurantistas em que vivemos, a opção de Oliver Parker pela interpretação mística pode ter apelo junto ao público. Em O Retrato de Dorian Gray, o diretor trabalha com elementos triviais do suspense sobrenatural, bem conhecidos do espectador, da mansão mal-assombrada aos gritos guturais e flashbacks em preto-e-branco. A clicheria se completa com o bigodinho de diabo de Colin Firth e a tentação da serpente no bacanal com música africana.

Moralista, o filme torna fato tudo aquilo que o livro apenas sugeria (o homoerotismo, a confissão dos pecados) e simplifica passagens que antes davam profundidade aos personagens, como a morte de Sibyl - que no livro Dorian compara, ao seu modo esteticista, com "a terrificante beleza de uma tragédia grega". No filme, o ator Ben Barnes, o Dorian da vez, reage a esse episódio com as caretas de que dispõe, vítima de um texto que já chega para ele bastante depreciado.

Ironicamente, O Retrato de Dorian Gray, com seu perfeccionismo britânico na ambientação, nos figurinos e nas maquiagens, mas raso em conteúdo, ilustra uma das questões que Wilde levanta no romance, a das obras de arte belas por fora e ocas por dentro. Se o filme motivar as pessoas a lê-lo, já terá cumprido o seu papel.

O Retrato de Dorian Gray | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular