Filmes

Crítica

O Segredo da Cabana | Crítica

O cinismo hiperbólico de Joss Whedon tenta ganhar a disputa no grito. Mas... que disputa?

30.09.2012, às 15H11.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H43

A essa altura do campeonato, muita gente já deve ter visto O Segredo da Cabana (The Cabin in the Woods) e dito pra você: vá assistir sem saber absolutamente nada sobre o filme! O que não deixa de ser curioso, porque o longa escrito por Joss Whedon (Os Vingadores) e dirigido por Drew Goddard (corroteirista de Cloverfield) se promove desde sempre como uma brincadeira de metalinguagem e joga com tudo o que esse subgênero do terror-de-cabana tem de previsível.

o segredo da cabana

o segredo da cabana

o segredo da cabana

o segredo da cabana

Em outras palavras, mesmo que esteja se guardando como uma virgem contra os spoilers, você já viu O Segredo da Cabana incontáveis vezes, em todos os filmes de maníaco ou de maus espíritos derivados de O Massacre da Serra Elétrica (1974), Halloween (1978) e The Evil Dead - A Morte do Demônio (1981). O que Goddard e Whedon fazem - como se estivessem redescobrindo a pólvora - é revelar os mecanismos desses filmes e a visão de mundo que geralmente está por trás deles.

Nada que Wes Craven e Kevin Williamson já não tenham feito em Pânico, portanto, mas vamos entrar no jogo... A título de resumo, para não entregar muitos detalhes, digamos apenas que o filme começa com uma cena num local indeterminado e depois emenda, deixando clara a metalinguagem, com um clássico plano de grua no meio da rua, acompanhado de música pop, para mostrar a vizinhança pacífica de subúrbio onde moram os jovens protagonistas do filme. Há a menina inocente, o atleta, o maconheiro, a loira (de cabelo tingido, já avisa). Eles pegam a estrada, param no posto do caipira desdentado, chegam na cabana e o resto você já depreende.

Nesses primeiros momentos, fica evidente que o forte de O Segredo da Cabana é o humor. Whedon e Goddard seguem a cartilha do terror-de-cabana para ridicularizar o passo-a-passo do gênero, e é graças às atuações de gênios como Richard Jenkins e Bradley Whitford (eu assistiria fácil a um The Office estrelado por vários Bradley Whitfords) que o texto de Whedon parece tão irresistivelmente cômico.

Mas O Segredo da Cabana não é muito mais do que uma piada. Há filmes que usam a metalinguagem para transformar os gêneros, como o próprio Pânico, que inverte a previsibilidade do whodunit (se todos são suspeitos óbvios não há nenhum suspeito óbvio), e como o recente e pouco visto Kaboom, que assim como O Segredo da Cabana faz a defesa da inconsequência juvenil, mas de uma forma muito mais subversiva e desencanada.

Depois das graças, o que resta em O Segredo da Cabana é a catarse pronta-para-consumir. O clímax do filme é o equivalente slasher daqueles grandes crossovers Marvel/DC feitos para aplacar fantasias de orgias nerds. E aí fica evidente que Joss Whedon atende esses desejos porque na verdade os despreza. Age como hipster disfarçado de nerd por incapacidade de sentir prazer com o que é convencional e estabelecido, e seu cinismo toma a forma das hipérboles, de deuses e monstros, porque - embora se ache muito iconoclasta - ele está no fundo tentando ganhar a disputa no grito.

Mas que disputa é essa, afinal de contas?

Nota do Crítico
Regular