Kaulder está prestes a entrar em uma loja para questionar um inimigo e solta a seguinte frase para o parceiro Dolan: “Max é um feiticeiro nível 17, não é um inimigo simples de se lidar”. Minutos depois, o caçador mostra seu arsenal de itens e armas para um outro personagem. Mais adiante, ele caça itens por Nova York para compôr uma poção de cura para um padre amigo. Todas estas situações estão em O Último Caçador de Bruxas e remetem às aventuras de RPG de mesa adoradas por muitos fãs - um deles é Vin Diesel.
O protagonista tenta novamente replicar o seu amor por aventuras deste tipo. A ficção científica A Batalha de Riddick foi a primeira tentativa frustrada do astro de Velozes e Furiosos de apresentar novas franquias fantásticas à Hollywood. O Último Caçador de Bruxas segue mesmo caminho, pois tem diversas virtudes, mas entrega uma história sem o peso e a urgência necessárias para uma aventura mística funcionar.
Diesel é Kaulder, um guerreiro de 800 anos que procura bruxas pelo planeta e não deixa de curtir a vida com bebida, mulheres e dinheiro. Certo dia, seu parceiro de longa data, vivido por Michael Caine, sofre um atentado que pode provar a volta da Rainha das Bruxas, ser supremo da raça que o caçador prometeu proteger a Terra. Ao lado de um padre (Elijah Wood, o Frodo de O Senhor dos Anéis) e uma bruxa-do-bem (Rose Leslie, a Ygritt de Game of Thrones), Kaulder busca meios de impedir a volta da vilã.
A história segue o padrão clássica de aventuras vistas em RPGs. Estão lá a investigação, os calabouços, os chefes secundários, as reviravoltas e o grande chefe do fim de fase. O roteiro é econômico tanto na hora de explicar as motivações dos personagens, quanto nos momentos de detalhar a trama em si. Não existe profundidade em nenhum dos “clãs” apresentados, nem nos problemas que aparecem ao longo da história. Na verdade, nem a Rainha soa tão ameaçadora - o que faz todo o drama da destruição mundial perder importância.
O personagem principal é um ancião cheio de estilo e sabedoria, que deveria misturar carisma e força numa medida equilibrada. Não é o que acontece. Vin Diesel funciona como o bruto e sensível Toretto, de Velozes, mas não passa a credibilidade necessária para se acreditar que há uma sabedoria quase milenar em Kaulder. A parte emotiva, e até reflexiva explorada pelo filme, não passa de uma ou outra careta de choro. Por outro lado, quando aposta no guerreio brucutu da espada flamejante, O Último Caçador de Bruxas revela seus melhores momentos.
Leslie e Wood fazem bem o papel de coadjuvantes, mas a primeira rouba a cena com seu ar presunçoso e mau humorado. E a direção de arte se destaca pela simplicidade. É comum em filmes do gênero se notar o exagero no design de vilões, armas e criaturas. Nada disso acontece aqui. Talvez por ter Diesel como produtor, o longa preza pela simplicidade na hora de mostrar o mundo mágico das bruxas - a Rainha também segue este estilo, com um visual de impacto, sem ser exagerado.
O Último Caçador de Bruxas esconde boas intenções mas não chega ao ponto de se guardar na memória. As referências feitas com sutileza e a simplicidade em contar a história jogam a favor do roteiro, que perde bastante ao apostar no potencial dramático de Vin Diesel. Por não ser uma aventura mágica pura e simples, o filme parece ter parado no meio do caminho.