Em O Ursinho Pooh (Winnie the Pooh, 2011), a Disney volta às suas origens com uma animação tradicional. Fugindo do espetáculo prometido pelo 3D e pelas facilidades da computação gráfica, aqui totalmente ausentes, a nova história do urso e seus amigos do Bosque dos 100 Acres é uma volta no tempo. Isso causa um certo alívio, já que traz consigo a certeza de que ainda há pessoas na indústria cinematográfica que se importam com os processos clássicos da animação.
Christoper Robin
Pooh
Ió
A trama começa sem surpresas. Pooh está faminto e procurando por um pote de mel. Ao sair de casa, porém, Pooh depara-se com um Ió ainda mais cabisbaixo que o normal e descobre que o burro perdeu seu rabo. A dupla pede ajuda ao Corujão, que lhes sugere uma competição: quem encontrar o rabo ou um objeto que o substitua, leva como prêmio um delicioso pote de mel. Enquanto a busca acontece, um terceiro evento interrompe a trama; Corujão, com suas péssimas habilidades de leitura, interpreta mal um bilhete deixado por Christopher Robin, levando a turminha a acreditar que o menino foi sequestrado por um terrível monstro que atende pelo nome de Voltogo. E os amigos começam também a procurar o tal bicho.
O filme apresenta uma narrativa pouco usual, contando sua história através do livro escrito por A.A. Milne (1882-1959) em 1926, obra com a qual os personagens interagem diretamente, brincando em suas letras e as utilizando como ferramentas e acessórios em diversos trechos - uma sentença vira a escada que usam para sair de um buraco, por exemplo. Tal gráfica interação pode servir como incentivo para que as crianças leiam mais, utilizando suas próprias imaginações para, assim como Christopher Robin, dar vida aos personagens e situações presentes nas páginas e imagens de diversos livros.
Aos adultos, claro, O Ursinho Pooh é extremamente previsível, mas cumpre perfeitamente sua proposta, que é também ensinar lições de moral e conceitos como coragem, perseverança, amizade e a colocar as necessidades dos outros à frente das suas. O curto tempo de duração não torna o filme cansativo às crianças e facilita a experiência dos pais, que também é amenizada com algumas piadinhas direcionadas apenas a eles.
No entanto, percebemos pelo filme que, no atual mundo policamente correto, qualquer "má influência" que possa prejudicar os valores morais das crianças deve ser obrigatoriamente erradicada. Por isso, a personalidade e comportamento dos personagens sofreu mudanças em relação às obras anteriores. Todos continuam problemáticos dentro de suas descrições originais, mas não com tanta ênfase: Pooh ainda é guloso e obcecado por mel, mas não rouba mais e pensa nos amigos antes de pensar em seu estômago. Leitão continua medroso, mas agora enfrenta seus temores e desbrava uma tenebrosa floresta para resgatar seus amigos de um buraco, exemplo que se repete nos demais personagens.
Por outro lado, há uma interessante abordagem à constituição dos animais do Bosque. Eles são representados como bichos de pelúcia e, como tais, sofrem as limitações físicas dos materiais de que são feitos. O rabo de Ió é preso ao burrinho por um prego e, em certo momento, a fome de Pooh fica tão intensa que o estofamento de sua barriga sai pela costura, o que é rapidamente corrigido pelo urso.
Encantam também as cenas mostradas durante os créditos finais. Ao som da música tema "Uma Coisa Muito Importante a Fazer", interpretada por Zooey Deschanel na versão original e Fernanda Takai em português, voltamos ao quarto de Christopher Robin e vemos passagens do filme encenadas ali mesmo com os brinquedos do garoto.
Produzido por John Lasseter, chefão da Pixar e cabeça criativa por trás dos principais projetos da empresa, O Ursinho Pooh cativa adultos e crianças com sua simplicidade. Ensina preciosas lições de moral aos pequenos que, nos dias de hoje, também podem ser reaprendidas pelos mais crescidinhos.