Vasto e cheio de possibilidades, o universo de One Piece permite que qualquer gênero de história se encaixe na série, até mesmo um musical. One Piece Film: Red prometeu ser uma aventura em que Luffy reencontra personagens queridos ao mesmo tempo em que nos apresenta uma nova personagem "canônica", cuja voz é a de uma das maiores artistas atuais do Japão, mas isso não se converte numa história minimamente interessante para tornar o filme atrativo.
Ambientado em algum ponto da reta final do arco de Wano, One Piece Film: Red começa quando o pirata Luffy e seus amigos chegam à ilha de Elegia, um local todo preparado para receber o show da artista Uta, uma Taylor Swift desse mundo criado por Eiichiro Oda. Surpreendendo a todos, o protagonista revela já conhecer a cantora, que vem a ser sua amiga de infância e também filha de Shanks, ídolo pirata de Luffy. No decorrer do filme, o bando do Chapéu de Palha se envolve em um mistério na ilha relacionado a uma perigosa entidade que se manifesta através da música.
Infelizmente, a ideia de construir Red como um filme musical, mesclando canções com o que está acontecendo na tela, não funciona tão bem. À exceção da primeira música, e de uma outra performada durante uma luta, as apresentações são descartáveis e pouco acrescentam à história (embora as músicas sejam excelentes). Para piorar, o mistério da ilha e a apresentação do grande inimigo final, supostos pontos importantes, acabam de lado porque o filme se preocupa mais em promover um desfile com a maior quantidade possível de personagens do universo de One Piece, para agradar o fã.
Não há qualquer motivo narrativo para a aparição de Big Mom, Perospero, Kalifa, Rob Lucci e grande elenco no decorrer da trama, trechos de alguns segundos que servem para o espectador reconhecer o fan service. Como se já não tivesse personagens em excesso, o filme apresenta um novo mascote, uma “versão Chopper” do navio Thousand Sunny, cuja função na trama também é nula. Até mesmo Shanks, em teoria um dos destaques do filme, tem uma participação subaproveitada e com algumas incoerências em relação ao roteiro da série original.
Esse excesso de personagens, termos, golpes e elementos torna o filme Red bem difícil para quem não é versado em One Piece. Se em outros filmes da franquia, como Strong World ou Gold, havia o cuidado de apresentar uma aventura compreensível para alguém que nunca assistiu ao anime, Red parece ignorar isso e buscar a atenção exclusivamente dos fãs mais fiéis da série, aqueles que sabem de cabeça o poder de cada akuma no mi, o nome de cada pirata secundário. A batalha final, por exemplo, só funciona quando se acompanhou aqueles personagens por centenas de capítulos e episódios e conhece suas personalidades e interações.
One Piece Film: Red também decepciona quem procura uma animação excelente digna de um filme de anime. O longa produzido pela Toei Animation não é feio - longe disso - mas em boa parte do tempo a animação fica mais próxima da série televisiva que de filmes anteriores da franquia. Há até momentos que os personagens em segundo plano ficam estáticos por longos minutos, como se tivessem sido petrificados em alguma posição desconfortável. Em compensação, as lutas finais de Red são bastante bonitas e pirotécnicas, respeitando o esperado de One Piece.
Um destaque bastante inusitado na versão brasileira do filme é a decisão por adaptar e localizar todas as músicas para o português. Enquanto no original as canções de Uta são interpretadas pela artista revelação ADO, a dublagem brasileira escala a dubladora Bianca Alencar tanto para a voz falada quanto a de canto da personagem. Embora em um tom diferente da original, Bianca realiza um trabalho impressionante e algumas músicas grudam na cabeça graças ao esforço e talento da dubladora/cantora.
Recentemente, One Piece Film: Red se tornou notícia por ter alcançado o posto de nono filme mais assistido de todos os tempos no Japão, mas esse parece um feito conquistado mais pelo marketing da presença de ADO e de Shanks que pelo lado artístico. Mesmo assim, Red tem em si elementos para agradar fãs mais aficionados de One Piece, ainda que aquém de outros filmes da franquia.